Contos

Conto de Ivellios – Capítulo 3 – Elfos

Conto narrado pelo escriba Ivellios  (ranger elfo – Jogador Danrlei de Lira Silva – estudante do 2º ano do curso integrado em informática do IFPB Campus Cajazeiras)

Aventura do dia 19 de abril de 2017 no projeto RPG na escola, coordenado pelo professor. Helltonn Winicius


Era algo difícil de acreditar: elfos atacando um vilarejo humano? Aparentemente aquele lugar não oferecia ameaça. Por Mielikki, ainda bem que os elfos acreditaram na minha história e recuaram, talvez o fato de sermos da mesma raça tenha ajudado a diminuir a hostilidade temporariamente.

Ao retornar para o vilarejo todos comemoraram o meu “feito”: “O herói que conseguiu afastar o perigo apenas com o poder das palavras”, essa frase ecoava na minha mente. Precisava descobrir o que estava realmente acontecendo. Decidi esperar que todos dormissem para ir ao encontro da elfa com quem conversara para tentar compreender esta estranha hostilidade.

Envolto em meus pensamentos, mal notei uma criada entrar na sala e ,como esperado, ela também possui uma figura de animal em suas vestes: dessa vez uma andorinha. Ela tinha cabelos vermelhos semelhantes aos da minha amiga Flora que participava do mesmo pelotão de vigília que eu em Florestas Altas, sinto um aperto no coração ao pensar nisso. Será que Flora estaria bem? Minha reflexão é sutilmente interrompida pela humana:

– Saudações a todos – ela diz numa voz fina e doce como o toque de um sino – Eu fui enviada pelo meu senhor Dayson para levar vocês até uma taverna próxima, para que possam descansar.

“Descansar” repito sua palavra em minha mente, o que realmente preciso é encontrar aquela elfa e entender o que está acontecendo com essas pessoas. Noto que ela está encarando nosso clérigo Ryu.

– Eu acho que… nós já nós vimos antes? – perguntou a criada para Ryu.

– Não sei dizer ao certo moça, já visitaste o templo de Lathander em Águas Profundas? Talvez seja de lá que me conheças.

– Águas Profundas? Não conheço este lugar… Seus olhos não me são estranhos, acho que… enfim, equívoco meu, desculpe.

Donovan pareceu estranhar o fato da jovem não conhecer uma das cidades mais famosas de toda Faerun, mas não disse nada que constrangesse a moça.

Então ela nos guiou rumo a taverna. No caminho, notei que meus amigos também perceberam o mesmo que eu, todos os moradores trazem em suas roupas a imagem de algum tipo de animal. Adentramos a taverna e seguimos até o balcão.

– Esses são os aventureiros que nos livraram da ameaça dos elfos, eles precisam de um lugar para passar a noite – a criada contou para o homem do outro lado do balcão, esse trazia como emblema um crocodilo.

– É mesmo? Então a pernoite será de graça! – ele fala com um sorriso no rosto – Mas o criado terá que pagar – ele me encara, fitando minhas vestes, e eu entendo o recado, todos tem animais em suas vestes, menos eu, aparentemente não tenho uma família importante nesse lugar.

Puxo o meu capuz para mais perto de mim, assim eles não verão que sou um elfo e pago a pequena taxa para que todos subissem aos respectivos quartos, pois recebemos acomodações em quartos individuais. Tratava-se de um cômodo bem rústico e simples: uma janela, uma cama pequena amaciada com feno, uma mesa e um assento, bem rustico, bom pra mim. Continuo com meu plano… enquanto todos dormiam, preparo-me para seguir floresta adentro.

Inesperadamente alguém bate na minha porta, a voz eu reconheço claramente, Ryu.

– Ivellios ainda está acordado? – sua voz demonstrava certa preocupação.

– Eu não durmo – respondo secamente indo em direção a porta.

Abro a porta e Ryu entra apressado, logo em seguida me entrega um bilhete arfando, seu rosto estava aflito.

Abri o bilhete e reconheci a caligrafia élfica que dizia: “Vocês não podem ficar ai, vocês estão em perigo.” Os elfos estavam nos alertando, precisamos agir nesse momento.

– Chame os outros, eu sei o que devemos fazer – digo para ele, achando que ele já recuperara o fôlego.

Segundos depois ele retornou apenas com Joseph, que tinha a cara de quem não dorme há muito tempo.

– Onde estão os outros? – pergunto fitando Joseph ainda sonolento.

– Estão dormindo, o Goiki só ronca e Donovan não responde – Ryu fala apressado.

Vou até o quarto do Donovan e uso duas farpas de madeira para abrir a fechadura da porta, percebo que estraguei a fechadura com a minha pressa. Adentro o quarto dele, porém o mesmo estava vazio, onde será que aquele bardo se meteu? Não temos tempo, vou em direção ao quarto do Goiki e uso as mesmas farpas para abrir a fechadura, porém com mais calma dessa vez para não estragar essa fechadura também.

Porém o Barbáro dorme pesado, tentamos de diversas maneiras acordá-lo, mas fracassando sempre.

– Está acontecendo algo muito estranho aqui – admite Ryu. – Primeiro essa mensagem e quando eu olho pela janela pra tentar ver quem a enviou vejo alguém saindo das muralhas em direção à floresta, Donovan desaparecido e o Goiki não está acordando, ele nunca teve um sono tão pesado, não antes de virmos para cá.

– Algo de errado não está certo – diz Joseph com um ar de preocupação e humor ao mesmo tempo.

Ryu se dirige para a jarra de água em cima da mesa e começa a orar para Lathander, instantaneamente a água começa a brilhar e ele a lança no rosto do Bárbaro. No momento que a água bate em sua testa ouço sons parecido com sinos e a medida que escorre pelo seu rosto, Goiki começa a recobrar a consciência

– Vamos precisamos sair daqui agora – disse saindo do quarto e eles me seguiram.

Porém no momento em que descíamos as escadas, damos de cara com o homem que nos atendeu no balcão, seu rosto demonstra preocupação.

– Pra onde vão essa hora da noite? – pergunta com a mão no queixo.

– Iremos pra uma caminhada noturna caçar algu…  – tento enganá-lo porém ele me interrompe – Cale-se escravo, como vocês deixam um servo falar por vocês?

– Ele mostra seu valor em batalha – responde Joseph.

– Sim, mas ele não pode falar por um grupo de heróis – continua o balconista.

Já impaciente Joseph chega perto do balconista e diz:

– Tá vendo essa espada aqui? Eu vou enfiar ela num lugar, e vai doer, e você não vai gostar, então você vai deixar nós sairmos? Ou vai deixar a espada entrar? – num tom pra lá de ameaçador. – Ou ela entra ou ela sai.

Escuto um barulho de uma mulher que aparentava vir da cozinha, ela está falando algo que não da para entender.

– Bom já que vocês querem ir, vão, a responsabilidade é de vocês, eu tenho outras coisas para fazer – ele diz recuando para a cozinha.

–Já era sem hora, vamos! Precisamos sair daqui agora – digo aos meus companheiros indo em direção a porta.

Saímos da taverna e fomos em direção à floresta, porém no caminho para a saída das muralhas, noto que as ruas estão desertas, não vejo ninguém de guarda no vilarejo, mas continuamos em direção à mata fechada.

Ao entramos na floresta já começo a tentar rastrear a nascente do rio onde se encontra aquela espécie de árvore Bogari, o qual a Elfa me entregou. Enquanto nos aproximamos da nascente do rio, explico aos meus companheiros o meu plano.

– Bem, companheiros, naquele momento eu encontrei com diversos elfos da floresta, eles me avisaram que o vilarejo não é seguro, o que aparenta ser razão, já que nosso amigo Goiki foi envenenado e o bardo está desaparecido. Pretendo perguntar a eles o que aconteceu com o vilarejo pra haver essa disputa com os humanos que ali moram, e tentar também conseguir alguma informação da gema que viemos procurar…

Escuto galhos quebrando atrás de nós, algo ou alguém está se aproximando e não se importa em ser notado. Uma criatura exótica aparece em meios as árvores, furiosa, olhando para nós com um ar ameaçador, um urso gigante.

Saco imediatamente meu arco e disparo uma flecha na criatura, mas ela é rápida e desvia facilmente. Com a minha deixa, Ryu invoca sua magia divina Chama Sagrada e dispara em direção a criatura, que também desvia. Joseph também não perde tempo e investe contra a criatura, desferindo um golpe na barriga do urso.

– Morra!!! – Goiki disse, entrando num estado de fúria que já conhecíamos, e partiu para cima da criatura atacando-a, descuidadamente, com dois golpes de seu machado e acertando em cheio o flanco da criatura.

A criatura não se intimida com o ataque poderoso do bárbaro e o ataca rugindo de raiva, acertando um golpe certeiro de garras em seu peito.

Miro mais uma flecha e disparo acertando diretamente na ferida que o bárbaro deixou na criatura, nesse momento a criatura se transforma numa elfa de pele bastante enrugada e de cor arroxeada revelando  que o urso na verdade se tratava de uma druida anciã.

Ryu resolve ascender uma tocha e se aproxima da elfa facilitando a visão de todos sobre ela. O guerreiro se pronuncia então:

– Ô madame, porquê você nos atacou?

– Vocês são ameaça para a floresta – a elfa responde num tom ameaçador.

– Mas a gente não fez nada – continua Joseph.

– A sua raça fez! Humanos profanadores da terra outrora virgem! – disse a elfa.

Nesse momento o guerreiro saca sua espada para atacá-la, mas eu grito:

– Não, não a ataque, preciso falar com ela!

Nesse momento, o bárbaro ao ataque e o guerreiro tenta segurá-lo, porém falha perante a fúria do Bárbaro, que ataca duas vezes a elfa anciã. No primeiro ela se esquiva facilmente, mas não esperando o segundo ataque ele a acerta gravemente na perna.

– Ferro maldito feito por humanos!!! – a elfa grita perante o ataque do bárbaro.

Nesse momento a elfa invoca uma magia que afeta o tempo e os ventos, num idioma que não entendi, em seguida um raio cai e atinge diretamente o bárbaro. Sem perder tempo a elfa se transforma em urso novamente rugindo para nós.

– Argggggggghhhhh!!!!

Eu retiro meu capuz para que ela veja que eu sou um elfo e grito:

– Espere, não nos ataque, eu também sou um elfo!

Ela me fita, e depois ruge novamente.

Vejo que ela transformada em urso, não terá consciência para analisar a situação. Ataco para tentar trazê-la de volta a sua forma élfica, acertando seu abdômen.

Ryu, notando que o bárbaro está gravemente ferido, invoca suas magias divinas para curá-lo. Ele conjura uma espécie de chama translúcida e a joga no bárbaro que a absorve curando o ferimento causado pela elfa.

Joseph tenta atacar o urso, mas o mesmo consegue esquivar, dando brecha para dois ataques do bárbaro que a acerta facilmente.

Os olhos do urso se enchem de ira e ela ataca o bárbaro com as duas garras, e o ergue, mordendo ferozmente seu ombro. Nesse momento, o céu se escurece novamente, e outro raio cai em direção ao bárbaro, que tenta se debater nas mandíbulas do urso, supreendentemente ele consegue escapar das garras do poderoso urso, porém o raio ainda o acerta e ele cai no chão.

Lembro-me do item que a elfa me entregou para garantir que eu a encontrasse, o procuro em minhas vestes e o levanto em minhas mãos enquanto grito em élfico:

– Elfa!!!! – mostro-lhe o item.

Nesse momento, o urso que estava com um semblante furioso, muda sua expressão, tornando abruptamente sereno. Antes estava em duas patas e agora cai sobre as quatro patas, fitando o objeto que eu segurava nas mãos.

– Não queremos problemas, só te atacamos para nos defender, estamos à procura dos elfos da floresta – digo calmamente.

Ryu, aproveitando que o urso estava olhando apenas para mim, usa esse momento para curar o bárbaro gravemente ferido, devido aos diversos ataques do urso.

– Volte para sua forma original – pede calmamente o guerreiro em élfico.

O urso se transforma novamente em elfa e fala comigo:

– Como conseguiu esse item?

– Uma das elfas da floresta me entregou, pedindo que eu a procurasse, dizendo que com esse item eu saberia onde encontrá-la – murmurei.

– Ela foi muito tola de dar esse item a você – disse a elfa – Você se corrompeu, anda com outras raças, não é mais um de nós.

– Não sou dessas redondezas, estou de viajem – tento me explicar.

– Não diga “redondezas” pisamos na mesma terra, estamos no mesmo mundo, você não deveria andar com outras raças, essas raças que forjam o fogo, que ferem as florestas, não deveria estar com eles – ela diz num tom sério.

– Acalme-se, eu preciso de mais informações, preciso encontrar a elfa que me deu esse item e preciso entender o que está acontecendo – tento justificar.

– Contanto que não machuquem a floresta, eu ficarei apenas observando, sairei da minha zona de vigilância se eu notar que a floresta foi maculada – ela diz no idioma comum, para avisar a todos.

Com isso ela se transforma num pássaro e voa para longe. Olho pro item em minhas mãos e reparo numa frase que não tinha visto até então, “Lectum Viridates” e outras que parecem ser instruções, mas está em alguma língua que eu não entendo.

Ryu lança mais uma vez sua magia divina para curar o bárbaro e seguimos até a nascente do rio, que eu já sentia estar perto. Chegando lá noto que perto do rio há uma cachoeira que se conecta ao rio e, mais a frente, a árvore que eu tanto procuro, porém não vejo os elfos que vim para encontrar. Me aproximo da árvore e digo para todos dormirem, que eu ficaria de guarda meditando.

As horas vão se passando, notei que os primeiros raios de sol já estavam aparecendo e uma leve movimentação nas arvores próximas, prontamente me levanto e saco meu arco… Ainda bem, era a elfa.

Ela está com uma expressão diferente. Seria medo? Desconfiança? Não sei. Me aproximo dela, mas no momento que estou chegando perto, ela se afasta.

– Porque trouxe eles? – ela pergunta num tom questionador. – O convite foi para você, somente para você, não devia ter trazido ninguém.

– Eu não pude deixar meus companheiros de viajem lá sozinhos, já que fomos avisados que o vilarejo não era seguro.

– Porque confia nas outras raças? Todos são traiçoeiros, só podemos confiar na nossa própria raça – ela continua.

– Já lutei bravamente ao lado deles.

Ela fita o meu grupo, pousando o olhar em Ryu.

– Aquele clérigo como é o nome dele? – Ela pergunta num tom mais ameno.

– Ryu Lucem.

– Eu já ouvi esse sobrenome, mas não de um clérigo, de um anjo, um anjo que usava essa denominação – sinto verdade em suas palavras. – Adriel Lucem, foi um anjo que desceu à terra e aqui fez sua morada. Estranho, chego a pensar que ele tem alguma ligação com o anjo.

– Pode ser que sim, sua mãe é bastante conhecida por seus feitos divinos – admito.

– Qual o nome dela?

– Lyriel.

– A druida anciã de nossa tribo já falou nesse nome algumas vezes, em seus contos – continua. – Mas você não deveria ter trazido eles aqui, aqui não é lugar para eles, mas pra você sim.

– Eu vim em busca de informações, para saber o motivo dessa luta entre vocês e o vilarejo, e sobre a gema que já lhe disse.

– O que você chama de vilarejo, na verdade é uma ilusão, um bruxo, enfeitiçou os animais da floresta, os transformando em humanos. Eles acham que são humanos, mas na verdade são animais que foram corrompidos pelo bruxo, que se diz representante do vilarejo, Dayson.

Fico surpreso com a informação, seus lábios não pareciam mentir.

– E sobre a gema? Você tem alguma informação? – noto que estamos mais próximos.

– Acredito que ela esteja no vilarejo, mas não tenho certeza.

– Se derrotarmos esse bruxo, acha tudo voltaria ao normal?

– Acho difícil – ela continua. – Aquele não é ele de verdade, ali é só uma casca, ele fez um pacto com sereias e vampiros há muitos anos atrás. Na verdade, ele traiu a minha avó. Eles eram amantes no passado, só que minha avó estava prometida para um elfo em minha aldeia, não tenho muitos detalhes pois ela não gosta de tocar nesse assunto. O que sei é que o bruxo não compreendia nossas regras, nossa tradição, nossa cultura. Ele prometeu se vingar de nosso povo, não de uma forma direta, mas de uma forma que afetasse nossa honra, nossa terra sagrada.

– Se realmente aquele clérigo é um descendente do anjo Adriel, proteja-o – suas palavras são firmes. – Seu sangue é precioso, e por ser precioso, haverá aqueles que irão querer tomá-lo, vampiros e sereias rodeiam essas terras, precisa tomar cuidado com eles, eles são muito sórdidos, muitas vezes conseguem nos corromper com sua capacidade de encantar, de nos fascinar. Meu irmão mesmo foi pego por uma dessas criaturas, ele morreu, e até hoje procura vingança, como um espectro, um cavaleiro sem cabeça.

Quando meus colegas demonstravam que iam acordar a elfa some como uma brisa soturna. Falei para elas sobre as preocupantes novidades e decidimos retornar para o vilarejo. Escuto algo vindo em direção de nosso grupo. Era Donovan, desesperado, grita para termos cuidado, estava sendo perseguido. Mas antes que pudéssemos fazer algo, uma densa neblina paira sobre nós e fomos lentamente perdendo a consciência…

 

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