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Batalha das eras parte 1: Sexta-feira 13 | Conto de Fantasia

Escrito por: Herica Freitas

“Batalha das eras” é um conto dividido em cinco partes, sobre batalhas milenares ao longo dos anos, em defesa do plano terrestre. É uma história independente que se passa em um mundo fictício idealizado pelo autor. Neste conto, a garota Ana, de vinte e poucos anos, faz uma descoberta sobre seu vizinho estranho, o senhor Benson. Esta descoberta leva Ana a viver uma aventura jamais imaginada por ela. Indicado para 14 anos ou mais.

Era mais um dia chato e tedioso para a jovem Ana, de vinte e poucos anos, a sexta-feira amanheceu cinza e fria. Ela se levantou, tomou seu banho matinal com água bem quente e bebeu um grande copo de café, acompanhado de nada, ela fazia a mesma coisa cinco dias por semana, enquanto o tempo ia passando e aos poucos a idade ia chegando. As responsabilidades de adulto, que chegaram de repente, tomaram dela aquilo que ela tinha de mais precioso: sua curiosidade.

Morava em uma pequena cidade no interior de Minas, que era pouco movimentada naquela hora da manhã. Ela saía de casa para trabalhar sempre às seis horas e vinte minutos, deixando a sua residência cercada de vizinhos estranhos para trás. De todos os vizinhos, o Senhor Howard Benson sem dúvidas se destacava. Todos os dias, durante várias horas da madrugada, Ana podia ouvir barulhos estranhos vindo da casa do velho rabugento que aparentemente morava sozinho, contudo fazia barulho como se mais de uma pessoa estivesse lá.

Durante os quatro anos que ela morava naquela monótona rua, nunca havia visto sequer uma pessoa visitá-lo: nenhum filho, sobrinho, irmão, necromante, tio ou amigo. O senhor Benson quase nunca saía de sua casa e, na maioria das vezes, olhava pela janela a rua enquanto os filhos chatos dos vizinhos brincavam de futebol utilizando traves de gols improvisadas com chinelos.

A casa do senhor Benson era, sem dúvidas, a mais assustadora de toda a vizinhança. Uma casa de três andares com grandes portões negros e altos, através dos quais que ninguém conseguiasequer olhar para o seu interior. Uma nuvem cinza sempre estava sobre a casa do velho. Por mais que fizesse sol e o dia estivesse azul e caloroso, a casa de Howard sempre parecia ter um aspecto fantasmagórico e hostil.

Nada de diferente acontecera com Ana naquele dia até sair com seu carro da garagem e estacionar do outro lado da rua para poder fechar o portão e se dirigir ao trabalho. Durante o trajeto do carro até o portão involuntariamente olhou para a janela mais alta da casa assustadora do senhor Benson. Naquele momento observou o velho homem cruzar o olhar com o seu. Sentindo um arrepio na espinha, desviou rapidamente o olhar, dirigindo-se até o seu portão.

Ao voltar para o carro, evitou olhar para trás, mas sentiu-se observada e incomodada. Quando adentrou seu veículo ela procurou o senhor na janela, porém ele que não estava mais lá. Ana simplesmente deu a partida e seguiu até seu trabalho para mais um dia de atividades chatas e monótonas. Durante o caminho, acompanhada de uma boa música, se perguntava onde estariam sua curiosidade e sua coragem que sempre estiveram consigo quando jovem.

-Bom dia Ana – cumprimentou seu amigo do escritório.

-Bom dia Jhosé, tudo bem?

-Vou bem, muitos relatórios hoje, não é mesmo? Ana, por que você estava bisbilhotando a minha casa hoje cedo? – ele perguntou com uma voz robótica.

Ana sentir novamente um arrepio em sua espinha ao ouví-lo dizer essa frase, engoliu seco e perguntou:

-O que você disse?

-Que temos muitos relatórios para fazer hoje, não é mesmo? – ele respondeu sorridente, se sentando em sua cadeira.

-Digo, sobre sua casa, sobre estar te bisbilhotando.

-Você dormiu bem Ana? Sabes que residimos em bairros extremos da cidade, seria impossível que você estivesse em minha casa hoje cedo. Eu não disse isto. Agora vamos trabalhar, o chefe pediu aquele relatório das entregas de sobressalentes pra ontem!

Ana passou o resto do dia fazendo relatórios tediosos e pensando no que havia acontecido. Seria muito estranho continuar tendo essa conversa com Jhosé e explicar toda a trama, desde que se mudara para a presente casa, passando pelo vizinho louco e os barulhos que ela ouvia para poder chegar até o presente momento. O restante do dia passou exatamente igual a todos os outros: lento e chato. Por sorte ou azar, Ana precisou ficar até mais tarde em seu trabalho e quando retornou para casa já era noite.

Quando estacionou seu carro e foi ao encontro do portão, seguindo o mesmo caminho que fizera de manhã, ela propositalmente procurou pelo senhor Benson em sua janela, mas observou apenas uma janela vazia, com pequenos feixes de luz esverdeados saindo do interior da casa. Mais uma vez, como nos últimos quatro dias da semana, Ana entrou com seu carro na garagem e, depois de trancar o portão, se viu jogada no sofá da sua sala, acariciando seu gato.

-Acho que preciso de férias Shipô, o que acha? – ela perguntou enquanto acariciava a cabeça do felino.

-Miau, miau. – ele respondeu ronronando.

Ana correu seus olhos por todo o sofá à procura do controle remoto do seu aparelho televisor e o encontrou na estante, bem ao lado da TV, que parece estar demasiadamente longe naquele momento, e pensando: “Seria útil ter o super poder de controlar o controle remoto agora”. Levantou-se para ir ao encontro do objeto de desejo da maioria das pessoas sentadas em sofás pelo mundo e, em posse do prestigiado item pressionou o grande botão vermelho circular escrito “ON/OFF” com seu controle apontado para a tela de seu televisor.

Com um lampejo sua TV se liga iluminando toda a extensão da sala com uma forte luz esbranquiçada. Ana conseguiu ouvir a moça do tempo falando no jornal: “Parece que temos uma tempestade se formando. Será que esta sexta-feira treze promete uma chuva assustadora como saideira? William é com você!”. Quando Ana se virou de costas, olha diretamente para seu calendário, onde enxergou o número treze em vermelho, na casa da sexta-feira. Como poderia ter sido tão esquecida? Os dias tediosos tinham mesmo acabado com toda sua energia e vigor. Nem mesmo tinha se dado conta de que o dia em que ela estava era um dia muito supersticioso para toda a humanidade.

Ana sentou-se no sofá e, em posse de seu smartphone, enviou algumas mensagens para contatos próximos, voltando sua atenção rapidamente para seu felino, que agora dormia sobre uma almofada. Um grande trovão anunciou a tempestade que a moça do tempo havia previsto, o vento assobiou lá fora e logo as gotas grandes de chuva bateram no telhado, confirmando a chegada da tempestade, que encerraria a sexta-feira treze. Minutos depois um brilho forte vindo de fora, seguido de um estalo, provocou uma queda de energia. “Mas seria possível que um raio atingiu poste outra vez?”.

Em posse de seu telefone, ela tentou ligar para a companhia de energia elétrica, para saber que diabos estava acontecendo, mas sem sucesso, pois o aparelho estava fora da área de cobertura.

-É meu amigo, parece que vamos ter que acender velas – ela disse para o gato, que continuava dormindo como se nada estivesse acontecendo.

Continua…


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