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Batalha das eras parte 3: A história | Conto de Fantasia

Escrito por: Herica Freitas

“Batalha das eras” é um conto dividido em cinco partes, sobre batalhas milenares ao longo dos anos, em defesa do plano terrestre. É uma história independente que se passa em um mundo fictício idealizado pelo autor. Neste conto, a garota Ana, de vinte e poucos anos, faz uma descoberta sobre seu vizinho estranho, o senhor Benson. Esta descoberta leva Ana a viver uma aventura jamais imaginada por ela. Indicado para 14 anos ou mais.

Ao correr a lanterna sobre as pernas Ana percebeu que a figura parada sob o batente da porta estava vestida com um longo vestido de seda fina, em coloração roxa extravagante e decorado com várias estrelas douradas e prateadas dos mais diversos tamanhos. Em uma das mãos a figura segurava um cajado de metal dourado com uma lua e uma estrela na ponta. Ao iluminar a face da criatura ela reconheceu a cara carrancuda do seu vizinho, Benson.

-Senhor Benson me desculpe eu n…

Ela foi interrompida pelo senhor que, magicamente, moveu-se até a sua frente, tapando a sua boca com o dedo indicador esquerdo. “Shhh” ele fez sussurrando, olhando dentro dos olhos dela. Ana não conseguiu deixar de reparar que onde deveriam existir pupilas no senhor Benson existia apenas um brilho, como se fosse uma galáxia escura, repleta de estrelas. Senhor Benson tocou no ombro de Ana com sua mão esquerda e por um momento ela sentiu como se flutuasse e logo depois despencasse em um abismo sem fim. Seu estômago se virou enjoado e ela, agora com medo de abrir os olhos, apertou com força o cabo da espada e a lanterna em suas mãos. Sentiu-se como se a gravidade se dissipasse do ambiente e seus ouvidos não fossem mais capazes de ouvir absolutamente nada.

-Ai, isso doeu – ela disse, ao sentir o chão de madeira gelado sob seu corpo – o que?

-Não fale muito, a primeira vez é sempre conturbada. – o senhor Benson respondeu – Você fez uma viagem dimensional para se transportar para o meu terceiro andar. Abri uma janela mágica que nos mandou para o espaço e depois nos cuspiu aqui. Acredito que as aranhas não serão capazes de entrar por enquanto.

Ana levantou-se do chão devagar e piscou algumas vezes para voltar a enxergar o ambiente, que se encontrava embaçado. Ela olhou para o senhor Benson, que estava parado à sua frente com o braço estendido, oferecendo algo parecido com uma balinha de hortelã.

-Tome, vai melhorar o enjoo – ele disse – precisamos nos preparar, minhas defesas não vão aguentar por muito tempo. Ele virá atrás de mim.

-Ei, eu exijo uma explicação agora! – ela disse aceitando o doce.

-Você invade a minha casa, pega minha espada, suja meu carpete e se sente no direito de me pedir uma explicação? – ele disse cruzando os braços.

-Sinto muito, eu não queria invadir a sua casa, eu queria te avisar que tinha uma aranha gigante entrando nela, tentei ser legal e uma boa vizinha, ao contrário do senhor. – Ana colocou a bala na boca e cruzou os braços emburrada – E então?

-Tudo bem – ele respirou – vou te contar, sente-se.

Ana percebeu que, com um gesto do cajado, duas cadeiras de madeira se materializaram logo atrás de ambos. Benson sentou-se como se aquilo para ele fosse como escovar os dentes de manhã ao acordar.

-Eu vou resumir para você, não espere entender tudo.

Ana sentou-se como se estivesse desacreditada que aquela cadeira fosse real.

-Meu nome é Hatszu, mas aderi o nome humano de Benson, porque precisava me esconder. Sou um feiticeiro muito poderoso de uma aliança que protege este plano das criaturas mais hostis que você possa imaginar. Eu sou o responsável por guardar os portões de grandes titãs do caos, você já ouviu falar de titãs?

-Só quando jogo videogame, isso é ficção.

-Não, não é! Eu guardo comigo essa chave – ele mostrou um colar com uma chave muito brilhante e dourada – sou a única pessoa que sabe o encantamento para abrir o portão, se falado corretamente e a chave for utilizada, o portão se abre, liberando os três grandes titãs do caos, que destruirão toda a vida deste universo. Eles são: Guerra, Escuridão e Morte. Aquelas aranhas que você viu, que invadiram a minha casa, são lacaios de um mago maligno que tenta roubar a chave de mim há mais de 2 mil anos. Globack é um seguidor dos titãs que estão presos e vem tentando me matar há muito tempo.

-Você está me dizendo que a magia existe mesmo, que os titãs são reais e que você, meu vizinho rabugento que fura a bola da galera, é um mago poderoso? – Ana caiu na gargalhada – Isso é loucura.

-Você já olhou ao seu redor?

Ana parou por um instante, ela não havia observado onde estava desde que aterrissou no chão frio. Ela observou que estava em uma sala com muitos frascos coloridos e aparatos que, para ela, eram de um laboratório de química. Além disso havia um telescópio próximo à janela, uma estante cheia de livros de capas coloridas, uma escrivaninha com mais papéis como as reportagens que encontrara no quarto, e uma jaula com algumas criaturas do tamanho de esquilos, mas que possuíam asas e um brilho fabuloso de tom esverdeado.

-Então essa é a janela que você estava hoje de manhã. – ela disse, indo até a janela e observando sua rua.

-Sim, esta é a janela do terceiro andar, minha torre, onde faço meus experimentos e estudo algumas magias para proteger o que deve ser protegido. 

-E você possuiu meu amigo hoje para falar comigo. – ela disse voltando sua atenção para ele. 

-Sim, hoje quando nossos olhares se cruzaram eu senti uma magia em você, ela estava fraca, pensei que você estivesse sendo manipulada por Globack, mas agora sei que não.

-Magia em mim? – ela riu novamente – Você só pode estar brincando.

-Você foi capaz de empunhar a espada da luz – ele indicou a espada na mão direita de Ana com a cabeça – Se você pegou nesta espada e não morreu queimada, provavelmente é uma mulher mágica e não sabia ainda.

Ana soltou a espada no chão imediatamente. 

-Você está dizendo que eu poderia ter morrido ao tocar nesta espada?

-Sim, matei o último vizinho desta forma. Bem, ele se matou. Deu muito trabalho para conjurar uma ilusão na casa dele e fazer as autoridades acreditarem que ele morreu dormindo.

-Você matou o dono da minha casa?

-Eu não, ele tocou no que não podia e se explodiu. – Benson deu de ombros – Depois disso, resolvi nunca mais receber nenhum vizinho em casa. 

-Mas que merda! Eu quero ir para casa – Ela disse, voltando-se para a porta.

-Você não pode, as aranhas agora estão te rastreando, elas sentiram a mesma magia que eu senti em você. Precisamos trabalhar juntos para proteger a chave até que essa chuva passe.

-Me diz uma coisa, por que hoje? Por que seu inimigo nunca atacou?

-Neste dia os poderes dele ficam fortes, se equiparando aos meus. Globack é um mago poderoso, mas nunca foi forte o suficiente para me vencer. Este dia de superstição para os humanos é, na verdade, um reflexo do poder de Globack. Por ficar muito forte ele influencia pessoas fracas, como os seres humanos, com a má sorte.

-E hoje você tem que lutar com ele pela chave?

-Sim Ana, hoje os poderes dele se equiparam aos meus e nós lutamos até que o dia termine. No fim quem ficar com a chave ganha.

-E por que você nunca o matou? – ela perguntou sentando-se de volta na cadeira.

-Globack, assim como eu, tem uma data de morte. Todos que possuem este grande poder consigo tem uma data definida, nós não podemos ser mortos até que esse dia chegue. O dia de Globack eu não sei ao certo, mas durante todos estes 2 mil anos nós mantemos este padrão incessante de batalhas, até hoje.

-Hoje?

-Sim. Hoje, antes da meia noite, mais precisamente às onze e cinquenta e seis, é o meu dia de morte – ele disse sorrindo.

Ana se assustou com a serenidade no olhar do homem. Seria normal alguém falar com tanta tranquilidade sobre sua morte? E mais, como ele poderia estar tranquilo com tudo aquilo que acabara de contar para ela? Abriu a boca para perguntar, mas foi interrompida.

-Sei o que você está pensando, mas eu preciso te contar mais uma coisa. Existia uma profecia, Ana, e essa profecia falava sobre você.

-Sobre mim? – ela arregalou os olhos.

-Sim.Você pode pegar aquele livro com a capa dourada logo atrás de você? – ele apontou para um livro sobre a mesa.

Ana se levantou e caminhou até o livro, que se encontrava aberto em uma página bem específica.

-Você pode, por favor, ler o que está escrito? – ele sorriu com os olhos.

-O guardião da chave também possui dia e hora, na noite de sexta-feira, dia treze de novembro de dois mil e vinte, depois de Cristo. Hatszu, em sua batalha com Globack, morrerá. Não fique preocupado, oh grandioso guardião, nessa mesma noite o escolhido cairá em sua casa, a garota cujo nome você saberá empunhará a espada da luz e seguirá ao seu encontro, mais precisamente às oito e treze. Você a reconhecerá pela marca, uma grande chave rasgada em sangue no seu pulso esquerdo, lugar onde ela deverá guardar a chave dada por você. Assim que ela estiver em posse da chave será capaz de compreender nosso mundo e seu legado. 

-Viu? Você caiu em minha casa às oito e treze de hoje, empunhou a espada para matar aquela aranha e tem a cicatriz.

-Você está enganado, eu arranhei meu braço quando caí é apenas uma… – Ana deixou o livro cair no chão quando olhou seu punho – isso não estava aqui antes.

Ana olhou para seu punho esquerdo. O local onde antes havia sangue e arranhões de cimento, agora tinha uma cicatriz em forma de chave do tamanho do colar do senhor Benson. Apesar de cheia de sangue a cicatriz não escorria, muito menos doía. Ana tocou seu punho sentindo-se cheia de coragem e vigor.

-Depois de tudo que aconteceu no meu dia, acredito que esta seja a prova que eu estava procurando. É real, você é real, as aranhas são reais, a espada, tudo é real.

-Tudo é real, Ana, e hoje lutaremos até a minha morte. – o senhor Benson se aproximou de Ana – Depois que eu morrer, você terá cerca de quatro minutos sozinha com Globack, eu preciso que proteja a chave. Você promete?

-Vou proteger ela com a minha vida. – Ana sentiu seu peito arder.

-Não se preocupe, você não morrerá. Seu dia será marcado no livro, assim que a minha história acabar a sua começar, nas páginas em branco que ainda restam.

Continua…


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