Conto de Goiki III – Capítulo 4 – Confronto com a Rainha Sereia
Conto narrado pelo escriba Goiki III (bárbaro draconato, seguidor de Bahamut – Jogador Francisco Weslley – estudante do 2º ano do ensino médio do Colégio Monsenhor Constantino Vieira)
Aventura do dia 26 de abril de 2017 no projeto RPG na escola, coordenado pelo professor. Helltonn Winicius
Minha mente estava em branco. Não conseguia mover meu corpo, mas sentia o cheiro de maresia e ao longe via uma pequena centelha de luz que aumentava lentamente até ficar do tamanho de uma gruta. Então haviam barras de ferro na minha frente e estava acorrentado ao chão com meus companheiros ao lado, aos poucos todos retomavam a consciência, não tínhamos nossas armas.
Minha memória retornou, não estávamos mais na floresta e sim em uma espécie de jaula cujo piso era de pedra polida, parecia ser uma região litorânea e seres parecidos com humanos nos cercavam. Olhei fixamente a imagem e aos poucos os vultos tornaram-se mais nítidos, estavam vestidos com mantos pretos e suas peles eram brancas como a de um cadáver. De dentro do mar saiu uma fêmea humana, da cintura pra baixo, seu corpo era recoberto por escamas azuladas que desapareciam a medida que suas pernas tocavam a areia, ela estava acompanhada de dois outros humanoides que pareciam sirenídeos. Minha avó xamã já me falara de histórias do Povo do Mar e os sirenídeos eram os mais cruéis deles. Meu pensamento foi interrompido por um dos humanos vestidos de preto que disse:
– Finalmente acordaram.
– Mas o que está acontecendo? – Donovan, parecendo confuso, perguntou.
– Não precisa se preocupar, para onde você vai as lembranças não são necessárias.
Donovan dá um grito e diz:
– Mas eu sou um bardo! Como eu vou contar as histórias?!
Uma humana de cabelos longos e negros se aproximou da jaula, sua voz suave me lembrava a sutileza de uma naja venenosa, ela olhava diretamente para Donovan. Ele deu um sorriso de canto de boca e ficou com aquele olhar de bobo que sempre faz ao encontrar uma mulher atraente.
– Senhoria, qual sua graça?
– Eu serei o anjo que o levará para o além, meu caro bardo.
A sereia que surgira do mar se aproximou da jaula onde estávamos, ela trajava um meia armadura, bem exótica inclusive, pois era repleta de escamas de metal e cheia de falhas. “Como aquilo poderia proteger alguém?!”, me perguntei, sequer tinha um elmo para proteger seu crânio, em sua cabeça havia apenas um adereço feminino com joias do mar. Porém o que realmente prendeu minha atenção foi uma concha mágica na ponta superior do cajado que ela segurava, pois um brilho esverdeado e familiar saia de dentro da concha. A humana então saúda a sereia e diz:
– Estávamos a sua espera Siren.
– Tivemos alguns contratempos no mar das ilhas Moonshae, mas tudo foi resolvido graças aos meus lacaios – ela olhou para eles e fez um carinho em uma das barbatanas da face do sirenídeo. – As cobaias estão prontas?
Ela então nos olhou sutilmente. Fiquei bastante nervoso, forçava as algemas para quebrá-las, mas aquilo parecia ser mais resistente que o normal! Malditos truques arcanos! Apenas pude gritar revoltado com nossa condição:
– Eu sou um bárbaro de Bahamut! E não uma cobaia para peixes!
Fui ignorado por aquelas criaturas malditas! “Estamos realmente longe da vila“, pensei, as ilhas Moonshae ficam do outro lado da Costa da Espada, a volta seria complicada. Nesse momento, Donovan perguntou:
– Desculpe-me, mas você disse cobaias?
– Peço desculpas, utilizei um termo inadequado – falou com um sorriso sarcástico.
– O que é uma cobaia? – questiona Joseph, o guerreiro de nosso grupo, Jôjô para os mais chegados, segundo ele nos diz.
– Uma coisa que não deve ser dita por um bárbaro tolo.
– Eu acredito que eu e meu grupo podemos ser bem mais úteis ser formos empregados como vossos lacaios – interrompeu Donovan. – Afinal, vocês devem ter coisas que gostariam de fazer e nós poderíamos providenciar isso para vocês sem a necessidade de sermos vistos como cobaias.
A humana olhou por um instante para Donovan e, com um pequeno sorriso com o canto da boca, ela disse:
– Interessante sua fala, você parece se expressar muito bem, é realmente uma pena não poder aproveitar um espécime tão bem articulado como você jovem bardo. Infelizmente eu tenho um acordo com Siren e, geralmente, eu cumpro os meus contratos.
-Ei, Siren, o que são essas criaturas com corpo de peixe? – perguntou Jôjô.
Olhei para o guerreiro surpreso, por um momento fiquei impressionado com a forma como ele tratava aquela sereia que estava ansiosa para ver nossa ruína. E mais impressionado ainda por ela ter respondido.
-Eles são meus guarda-costas. Dariam a vida por mim – olhando com desprezo para Jôjô, ela continua – Eu já encontrei homens como você, que usam de sua dissimulação para nos confundir, apenas tive decepções com sua raça. Homens… facilmente corrompidos pelas fraquezas da alma. Diga-me, por que a sua raça abandona tão facilmente os seus ideais?
Claramente sem compreender os rumos que a resposta tomou Jôjô apenas disse:
– Obrigado, eu acho.
Revirando os olhos, porém sem alterar o tom de sua voz, a serei se voltou para a humana:
– Vamos nos apressar Sindel, terminemos com essa morosidade, pois temos que alimentar aquele que está sempre faminto.
Sindel, pela primeira vez ouvíamos o nome da humana vestida de preto.
Estava apreensivo com a situação, nunca aceitaria ser comida para qualquer criatura, afinal sou filho de Goiki II! Aquele que foi líder dos bravos draconatos da tribo de Chult, mas aquelas correntes! Arggghh! Aquelas malditas correntes!
Jôjô insistiu em fazer perguntas, mas dessa vez foi ignorado, sua única resposta foi quando um dos sirenideos bateu na jaula com seu tridente e gritou:
– Não importune a minha senhora, humano imundo!
Nesse momento as duas mulheres se afastaram em direção a uma pequena construção localizada mais para dentro da ilha, os outros humanos as seguiram e apenas um permaneceu próximo a nós. Olhando para a construção ao longe, lembrei-me daquela pequena cidadela que também tinha bandeiras no topo, a nação Aryvandaar que provavelmente foi desocupada no final da guerra das coroas. Jôjô olhou para mim e perguntou:
– Lembrando de alguma coisa meu amigo?
– Sim, da guerra das coroas, um dia retornarei para reivindicar a queda da minha tribo.
Nesse momento, uma outra humana trajando vestes semelhantes as usadas por Sindel falou algo para ela e se aproximou de nós, seus cabelos eram loiros e encaracolados, seus olhos tinham um tom prateado.
– Saudações aventureiros venho contar uma história.
Então ela começou a falar palavras estranhas: dominae mihi venit nocte illa ut quisque alterius gratiam plane
– Cala a boca Josef! – gemeu Donovan
Isso estava me deixando louco, eu não entendia nada e por pouco não entrei em fúria, puxei o ar e disse bem alto:
– Mas que diabos vocês estão falando!
Quando a mulher terminou de dizer as palavras ela soprou em nossa direção e um vapor gélido saiu de sua boca. Minhas escamas formigavam, eu fiquei sonolento, mas, antes que eu caísse no sono, lembrei de nossa condição e de minha não conformidade em servirmos de comida. Encontrei forças no meu interior para permanecer acordado, meus amigos também conseguiram se manter fortes, ela nos olhou impressionada com nossa resistência, em seguida fitou os sirenideos e disse:
– Vocês estão atrapalhando minha concentração sirenideos! Porque não fazem sua guarda mais próximo da cidadela?
Pude perceber que, depois de perguntar tal coisa, os olhos da humana assumiram por um breve momento uma coloração púrpura, então um deles disse:
– Hmm, talvez seja melhor proteger a nossa senhora mais próximo a cidadela.
Eles saíram lentamente, eram seres realmente tenazes, suas poderosas caudas deixavam grandes marcas na areia. A humana esperou eles ser afastarem o suficiente e sussurrou em nossa direção:
– Acho que podemos conversar melhor agora, me chamo Luna e sou uma cria vampírica, fui vítima de um vampiro e me tornei algo semelhante a ele. Não tenho concordado com algumas atitudes tomadas por Sindel nos últimos tempos em nossa região, por isso sugiro que vocês tentem disfarçar que estão em um sono profundo pois pretendo tirar vocês daqui.
Eu relutava com minha consciência, pois algo me dizia ela estava falando a verdade, mas como poderia acreditar em uma humana estranha como aquela? Então ela lançou um outro vapor sobre nós, mas dessa vez não senti nenhuma sonolência, parecia um vapor inofensivo.
– Então companheiros, eu confio nela e vou fazer o que ela pede – comentou Donovan.
Ele deitou e fingiu dormir, os outros também começaram a fazer a mesma coisa, acabei seguindo a atitude deles, então fechei meus olhos e respirei lentamente, porém atento a qualquer ameaça. Consigui escutar Luna se aproximando das criaturas e falando em um idioma que eu não entendia, então eles se aproximaram da jaula. Algum tempo depois, eu já estava impaciente com aquela situação, minha vontade era de sair daquela reles situação de sono aparente e fincar o meu machado naqueles sirenideos! Então, assim que decidi sair daquela situação estúpida, comecei a escutar estalos vindos debaixo da jaula, o piso cedeu e caímos em um fundo falso, mas ainda dentro da jaula, apena em um piso inferior. Ao olhar para cima, vi que o vapor que nos cobria assumiu uma forma idêntica aos nossos corpos antes aparentemente adormecidos. Eu até poderia entender que tinha saído do meu corpo, se eu não tivesse visto o vapor se transformando. Estávamos em uma espécie de subsolo com uma estreita passagem a nossa frente. Vi Luna se aproximando, na sua mão direita ela segurava uma chave ornamentada, então nos libertou e disse:
– Vamos rápido, não podemos perder tempo.
Seguimos aquela então a garota, ainda estava desconfiado, mas como minhas escamas não alertavam de nenhum perigo iminente, resolvi seguir atento aos seus movimentos. Andamos no túnel estreito com paredes de rocha esculpida, havia muita umidade com gotículas de água no meio do corredor, o odor e tais condições denunciavam que ainda estávamos próximos ao mar. Chegamos em uma sala escura, a garota então flutuou e pegou uma tocha do telhado decrépito enquanto dizia:
– A minha senhora Sindel fez um acordo com Siren. Ela era uma sereia fascinada pelos outros planos de existência, gostava das histórias sobre as possibilidades que o multiverso proporcionava, sobre outras raças e outros mundos. Ao que parece, Siren se apaixonou por um extra planar, um humano vindo de outro mundo, ela o encontrou no mar das Moonshae, em um navio destraçado, então o salvou e entregou seu coração a ele. Todavia, escutei uma das conversas delas e, segundo a própria Siren, esse humano a traiu com uma elfa da floresta. Revoltada com a fraqueza humana, Siren pediu ajuda da minha senhora para acabar com o romance dos dois e assim ela o fez, entregando uma poção para ela. Siren então despertou uma atroz besta marinha que lhe deu poder em troca de almas que ela deveria entregar de tempos em tempos. Com tais poderes Siren lançou uma maldição sobre a elfa da floresta e seu desafeto, aprisionando suas almas em estátuas de pedra. O que eu entendo é que Siren está em maus lençóis, pois está em débito com a fera marinha e minha senhora.
– E como ela pretende pagar? – Donovan inquiriu.
– Com vocês, Siren encontrou um artefato poderoso nos últimos dias e gostaria de usar em um ritual alimentando-o com seus espíritos e, com isso, abrir um portal que permite o acesso a antigos conhecimentos divinos.
– Porque nós e não outros? – insistiu o bardo.
– Segundo minha senhora, ela acredita que um de vocês tenha sangue celestial correndo nas veias e como a minha senhora tem uma sede insaciável por poder, aceitou a oferta de Siren como forma de pagar seu débito. A gema também disse a Siren que vocês presenciaram um evento de grande proporção divina e por isso suas almas estão maculadas com os resquícios de tal batalha. Eu não concordo com isso, então decidi libertá-los.
Ela então se aproximou de um baú e ao abri-lo revelou nossas armas. Apesar dela ganhar minha consideração por devolver meu machado, ainda estava receoso, estava fácil demais. Então olhando-a com firmeza, disse em um tom ameaçador:
– Um draconato não é nada sem a sua arma!
Donovan beijava sua lira enquanto os outros pegavam as armas que foram furtadas.
– Vamos! O tempo se esvai, há um caminho por estes túneis que desemboca no outro lado da ilha, eu providenciarei canoas para que possam voltar ao continente.
– Então, porque discorda da sua mestra? – perguntou Donovan de um jeito despretensioso.
– Eu não concordo com seus ideiais, ao contrário dela que abraçou a vida vampírica, eu não queria isso para mim. E estava aguardando o momento certo de demonstrar o meu… – ela então olhou de forma dissimulada para Donovan e, com um breve balançar de ombros, concluiu – … descontentamento.
– Eu sinto muito pelo seu fardo, sinto que seu descontentamento já dura alguns anos.
– Décadas na verdade – corrigiu ela.
Estávamos nos aproximando da saída, o cheiro da maresia se tornava mais forte, porém, senti um vento gelado nesse mesmo instante, um calafrio percorrendo minhas escamas, minha boca ficou seca, Ryu pôs uma de suas mãos na cabeça, e ao olhá-lo confirmei que um perigo iminente nos aguardava.
– Essa não, os sinos estão tocando.
– Por que estão parados?! Vamos! – falou Luna logo ante de sair dos túneis.
– Estou sentindo o cheiro de perigo a frente – comentei.
– Algo ruim estar por vir – Ryu completou, então nos preparamos para um combate.
– Rápido! – Luna exclamava – O que vocês estão fazendo aí parad…
Antes que ela pudesse concluir sua fala, foi atingida por uma bola de fogo, sem lhe dar tempo para se proteger, caindo ao chão, aparentemente desacordada.
Tomado de fúria, saio do túnel e berrei em alto e bom tom:
– Quem ousa feri-la de forma tão covarde!!!
Sentimos um tremor no túnel e em seguida uma parede fechou a passagem atrás do último de nós, vejo uma praia cercada pelo mar em todas as direções e as canoas que Luna falara estavam há alguns metros, próximas do mar. Saimos em uma parte da ilha coberta por um paredão rochoso, a rebentação do mar acontecia a aproximadamente 10 metros de onde estávamos. Por entre a areia da praia, haviam quatro grandes rochas do tamanho de elefantes adultos e, em cima de uma, estava Siren com seus dois guarda-costas na areia, próximos a ela. Em outra rocha se estava Sindel que disse:
– Tola Luna! Ajudando os prisioneiros a fugir! Estava engasgada com seus olhares cerrados há muitas décadas! Sua atitude descabida apenas antecipou seu trágico fim! Lamento por este infortúnio Siren. Bom, parece que você mesmo vai ter que tirar a vida deles, já que meus outros lacaios estão ocupados com os preparativos de um ritual frustrado.
O olhar de Siren para nós era cheio de ameaça, ela ergueu o cajado e a concha brilhou fortemente lançando um raio aos céus enquanto ela dizia:
– Quod mare punire perifidos!
Nuvens de tempestade surgiram, cobrindo toda a vastidão do firmamento, relâmpagos e trovões ecoaram nos céus, os ventos começaram a soprar com fúria, sentimos um grande tremor e, em alto mar, uma criatura semelhante a uma colossal serpente marinha saltou. Por Bahamut! Poucas vezes pude ver uma criatura tão imensa, chegava a ser quase tão grande quanto Tiamat! Quando a criatura caiu na água novamente, uma gigantesca onda se formou em nossa direção e, mesmo quebrando ainda em alto mar, toda a praia onde estávamos ficou alagada. Nadando com dificuldade, nos voltamos para nossos inimigos.
Donovan ainda estava dentro do túnel quase submerso pelas fortes ondas, mesmo assim conseguiu ser o primeiro de nós a agir. Olhou para Ivellius, o ranger arqueiro do nosso grupo, disse umas palavras mágicas que inspiraram nosso companheiro na luta. Em seguida, Donovan pegou sua besta de mão e atirou um virote em direção a um dos sirenídeos que tentou desviar, mas acabou atingido.
O outro sirenídeo veio em minha direção, ele segurava um tridente e, ao se aproximar de mim, desferiu um ataque que perfurou minha pele para, em seguida, arrancar o tridente e aumentar o ferimento, parecia que eu estava sendo queimado por brasas ardentes! Por causa do ataque e da reação da água salgada, a dor era grande, mas não maior que minha coragem! Enquanto isso, pude ver que Sindel se transformou em morcego e voou para longe. “Espero que não tenha ido atrás de reforços!“, pensei, “Precisamos nos preparar para algo maior caso ela retorne com seus lacaios.“
Ryu nadou em minha direção e, mesmo com dificuldade, conseguiu tocar meu ombro, saindo da sua mão um brilho divino invadiu meus ferimentos, amenizando a dor do ataque. A outra criatura viu o que o clérigo fez e avançou na minha direção para tentar enfiar o tridente em meu tórax, mas consegui esquivar, porém ele não se deu por vencido e desferiu uma mordida no meu ombro, fincando suas presas em minha carne.
– Agora é minha vez! – gritou Jôjô.
Ele nadou até um dos sirenídeos e desferiu um ataque em um deles, mas ao tentar outro ataque errou, pois a força da correnteza atrapalhou seu movimento. Ainda que com muita dificuldade para empunhar seu arco fora da água, Ivellios lançou duas flechas na direção das criaturas e, graças a sua exímia habilidade com o arco, os atingiu, deixando as flechas fincadas nas costas dos sirenideos.
Ao ver tudo aquilo minha fúria apenas aumentou, tomado por um frenesi dracônico desfiro três ataques no segundo sirenídeo que acabou ficando mais próximo a mim. Golpeio poderosamente e o urro de dor da criatura apenas me dá fôlego para golpeá-lo novamente. Parecia que o mar o protegia, já que uma onde atrapalhou o meu segundo ataque. Então, com muita raiva, desfiro um último ataque e corto uma das suas barbatanas, ela urra de dor mas se mantém firme diante de mim, nesse instante pude ver o corpo de Luna sendo levado pela correnteza. Não pude fazer nada para deter a correnteza. Precisava derrotar estas criaturas para trazê-la de volta.
O mar ficava cada vez mais revolto, enquanto isso, Siren, olhando para nós, pareceu praguejar em nossa direção:
– Neptun poslati jednu od njegovih stvorenja za kažnjavanje nevjernika!
Um pequeno redemoinho apareceu na água, uma porção dela parecia ter vontade própria, criando uma massa de água com grandes tentáculos gelatinosos e um elemental da água surgiu em nosso desfavor. Salvar Luna parecia ser uma opção cada vez mais complicada. A concha de Siren brilhou e lançou outro raio aos céus, piorando ainda mais a tormenta. Então ela pulou na água, suas pernas se transformaram em uma longa cauda azulada, revelando todo o esplendor e temor que uma sereia é capaz de provocar em seus inimigos. Donovan olhou para os céus e gritou:
– Maldito seja Vecna! – o bardou se voltou sua para Jôjô e disse – Você consegue meu amigo! Não permita que este mar revolto sobrepuje sua coragem!
Ele pegou sua lira e a apoiou no peito, segurando uma das cordas, e tocou uma música. Nesse momento uma seta de energia voou na direção do elemental, mas parece que nenhum efeito ocorreu contra ele. Enquanto isso, Ryu ergueu seu símbolo sagrado e, fitando as criaturas, disse:
– O mal temerá diante da minha luz.
Do meio das nuvens projetou-se uma luz celestial e quatro anjos saíram delas, vestiam armaduras douradas e tinham lanças flamejante com as quais perfuraram as criaturas e desapareceram em seguida. Ficquei maravilhado com a cena. Segundos depois fui tirado do torpor, pois os sirenideos realizaram ataques contra mim e conseguiram facilmente me atingir por estarem em seu habitat natural, porém minha fúria barbara impediu que eu caísse, ela me ajuda a enfrentar tais perigos e me dá ânimo para prosseguir.
Enquanto isso, no céu as nuvens ficaram mais densas, os relâmpagos aumentaram. Apesar de não ser muito hábil com palavras, Jôjô sempre observa seu inimigo buscando os pontos mais vulneráveis, então percebeu que a barbatana era um desses pontos e desferiu ataques provocando maior dano a um dos sirenideos, fazendo-o boiar e ser levado pela maré.
Ivellios nadou até um dos rochedos, acho que para ter melhores chances de atacar, mas ao passar próximo do elemental, conseguiu perceber em fração de segundos, o reflexo projetado pelo tentáculo da criatura vindo em sua direção e, usando de sua maestria élfica, conseguiu desviar do ataque, usando o impacto do golpe do elemental como o impulso necessário para subir no rochedo. Então puxou uma flecha e atirou na direção de Siren, porém os ventos tempestuosos mudaram a trajetória do projétil, fazendo Siren rir e desdenhar do arqueiro:
– Os mares me protegem elfo! Não conseguirá me atingir nesta tempestade!
Porém a determinação do arqueiro pareceu não ser abalada peal afronta da sereia, pois Ivellios se concentrou, repetiu as palavras de incentivo do bardo, esperou o momento exato em que os ventos poderiam favorecê-lo e lançou sua segunda flecha atingindo o ombro de Siren, que ficou possessa com o êxito de nosso companheiro.
Senti a água borbulhando em baixo das minhas pernas, fui repentinamente tragado para dentro da água, uma pressão enorme me envolveu, como se quisesse quebrar todos meus ossos, parecia que eu estava sendo envolvido por uma cobra constritora gigante.
– Por Bahamut! – tentei gritar, mas apenas bolhas saíram de minha boca.
Em meio a situação, percebi que na verdade era o elemental que tinha me engolfado, não apenas a mim, como também ao meu companheiro de batalhas, Jôjô. Prendi minha respiração, concentrando minha força, sentindo cada fibra muscular ser rompida, gerei energia necessária para então, de forma abrupta, estender meu corpo, meus braços e pernas, rompendo os tentáculos da criatura, me libertando de seu ataque. Fui a superfície para respirar aliviado e determinado a continuar o combate! Vejo que estou próximo à sereia e resolvo por um fim nessa batalha, cortando o mal pela raiz, saio do combate com o elemental e vou em direção a sereia.
O monstro de água não satisfeito, criou outro tentáculo e o lançou contra mim, a pancada é poderosa, me lançando contra o rochedo e a uma dor inevitável, mas que me impulsiona a batalhar com maior afinco. Seguro as pedras com as mãos e subo rapidamente, vejo Siren do outro lado do rochedo, com o dorso fora d´agua. Parto com ferocidade até a ponta do rochedo e desfiro três golpes certeiros contra ela. Furiosa, ela me olhou de forma ameaçadora e disse palavras em outra língua com seus olhos brilhando em uma cor esverdeada. Os ventos se tornaram mais furiosos e ao olhar para os céus vejo que dois tornados se formam, um em minha direção lançando-me a 6 metros de altura com rodopios que me deixam enjoado, consigo ver boa parte da ilha com a altura em que os ventos me lançaram, ouvi os gritos de meu companheiro Ivellios, ele também fora tragado pelo outro tornado. Ivellios é lançado na água enquanto eu fui arremessado de volta contra o rochedo, ficando gravemente ferido, sem conseguir ficar de pé, senti o gosto do sangue em minha boca.
Siren estava na água próximo ao local onde cai, ela também estava muito ferida e tentava escapar. Respiro forte, sinto minhas costelas quebradas, lembro-me da batalha contra os homens lagartos em Chult, da vez em que eu estava caído e vi um de meus colegas, Kratus, um draconato honrado, quem me ensinou que mesmo caído podemos ser ameaçadores. Naquela ocasião não consegui vingar meu amigo contra aquele yuan-ti maligno, mas dessa vez não, seria diferente, não deixarei esta sereia escapar, espalhando sua maldição pelos mares.
Mesmo caído, ergui meu machado e desferi um ataque na direção dela, sentia minha arma ser guiada pelos espíritos dos meus antigos companheiros draconatos, conseguindo golpeá-la fatalmente. Ela deu um grito de dor enquanto seu peitoral se despedaçava com o poder do meu golpe, seu cajado foi lançado para outro rochedo próximo, seu corpo então desvaneceu e foi engolido pelas águas.
O cajado avabou fincado em outro rochedo, a morte de sua mestra parecendo provocar um efeito autodestrutivo, pois a concha começou a rachar, uma enorme energia pulsou da arma de forma ameaçadora. Algo me dizia que iria explodir e foi quando escutei o grito de Donovan:
– Pegue a pedra! Ela está dentro da concha!
Não sei como ele deduziu isso, mas eu nada poderia fazer, estava exausto, parecia que a fúria estava me deixando, a partir daquele momento eu apenas conseguia observar meus companheiros.
Donovan pegou sua lira e quando ele a tocou, setas de energia voaram na direção do mostro de água, enquanto isso, Ryu levantava seu medalhão para o céu e dizia:
– Convoco a arma dos justos de Lathander!
Uma espada flamejante desceu dos céus na direção do mostro de água, porém, quando a lâmina se aproximou da criatura, ela muito habilmente criou uma fissura em seu corpo fazendo com que a espada o atravessasse sem causa dano. Entretanto, a espada golpeou o sirenideo que estava ao lado do elemental, desfalecendo-o no mar. Jôjô percebeu a oportunidade de chegar até a concha e pegar a pedra. Ele se esforçou, nadava contra a correnteza, as ondas o puxavam para baixo, quando penso que ele vai desistir, subitamente ele adquire novas forças e consegue continuar. Ele chegou próximo as rochas usando as suas últimas energias para subir nela, mas antes que pudesse pegar a concha, um tornado envolveu todo o rochedo, lançando o guerreiro na água.
A cerca de 5 metros de dentro do tornado um portal se abriu e mais uma vez o triângulo espectral nos fitou de forma ameaçadora. Não estava acreditando que teríamos que enfrentar aquele ser novamente em meio a esta tormenta! Não esqueço de como ele revidou o meu poderoso ataque.
Ouço Ivelios dizendo que o diário de Ossington começara a brilhar exatamente no mesmo momento em que a criatura espectral apareceu. Com muita dificuldade por causa do vendaval, pude ver que o ranger abriu o caderno tentando ver como poderíamos banir aquele triangulo novamente. Desta vez não tínhamos pedras cúbicas para isso, apenas um mar revolto estava a nossa frente.
– O caderno está mostrando cálculos matemáticos novamente, mas diferentes da ocasião em que o enfrentamos pela primeira vez – gritou o ranger.
– Como são estes cálculos?! – gritou o bardo, tentando se aproximar de Ivellios.
– Ele mostra uma trajetória curva, e abaixo uma fórmula:
Spatium2 máximam = Celeritasmane x Sen(2θ)
Gravitas
Eu não entendia nada que o ranger do grupo estava falando. Que língua era aquela? Mal conseguia me mover naquele rochedo, e o pior estava para acontecer, a maré aumentava mais e mais, começava a invadir o lugar onde eu estava. O bardo finalmente conseguiu alcançar o lugar onde o ranger estava. Percebia sua aflição em tentar descobrir o significado dos símbolos no caderno de Ossington.
– Por Ohgma!!! Preciso desvendar esse enigma!
– A pedra vai explodir!!! – gritou Jojô.
– Preciso de tempo!
– Não temos!!!
Jojô tentou nadar até onde estava, para tentar me salvar talvez, mas para onde iria me levar? Ao chegar onde estava disse:
– Não morrerás afogado meu amigo! E nem pela explosão desta pedra do caos, venha! Vou tentar te levar para um rochedo mais elevado!
– Obrigado Jojô – foi o que pude responder, em meio a tempestade, pude ver meu bravo companheiro de aventuras obstinado em nos afastar para um lugar menos perigoso.
– Eureka!!!! – gritou o bardo. – Graças a Ogma! Obrigado meu deus pelas aulas de artes arcanas exatas e pelas aulas de línguas extra planares!! Sabia que um dia elas seriam úteis para alguma coisa! Ivellios, a palavra Spatium significa distância, a que distância você acha que estamos do triângulo?
– Acredito que a 10 metros.
– Ótimo! Então, vejamos agora, precisamos saber a velocidade de sua flecha nesta tempestade, pois a palavra Celeritas quer dizer velocidade.
– O caderno indica que a velocidade é de 10 metros por segundo
– Ele disse isso? Tudo bem então! Então, a gravidade também é de 10 m/s, logo se substituirmos estes valores na fórmula…
– Veja! A medida que você fala, os nomes vão se transformando em números!
102 = 10 x Sen(2θ) → Sen(2θ) = 1
10
– Pense Donovan! Pense!!! Como resolver este enigma agora… qual o ângulo que quando duplicado gera o seno de 1…pense…espere…o seno de 90 graus é 1…então o ângulo é 45 graus!!! Ivellios, lance sua flecha em um ângulo de 45 graus!!! Acredito que é isso que o caderno quer que você faça!!
Chego com Jojô no rochedo onde estão Donovan e Ivellius berrando um com o outro ao tentar decifrar o enigma. Então vejo que o ranger arqueia seu corpo, do caderno de Ossington uma áurea dourada repleta de símbolos arcanos brilhantes é lançada sobre a flecha de Ivellios e, ao dispará-la, a flecha faz um movimento perfeitamente curvo, mesmo com todo aquele vendaval. Entendi que a magia do diário de Ossington diminuiu a resistência dos ventos contra a flecha.
A flecha atingiu em cheio o triângulo dourado fazendo-o desaparecer, ela continuou em sua trajetória, atravessando o tornado e a concha mágica exatamente em seu centro, até perfurar a gema do caos. O tornado então se dissipou, a concha se desintegrou e víamos a gema verde brilhante a nossa frente.
Ela flutuava no ar, os ventos e o mar começavam a perder sua fúria, até mesmo o elemental se desfez.
O ambiente parecia se modificar, na areia da praia começaram a nascer flores brancas que formavam um caminho do lugar abaixo da pedra até o interior da praia, Jôjô, após me deixar com nossos companheiros, se aproximou da pedra tentando pegá-la, mas sua mão simplesmente atravessou a gema.
Esta então emitiu uma forte luz e o espaço próximo a ela começou a se rachar, nesse momento, o aroma das flores se tornou mais forte, e nosso colega Ivellios lembra-se do poema que recebera por uma elfa da floresta próximo ao vilarejo de Ossington. Ivellios pareceu ser acometido por um momento de êxtase e disse:
– Temos que seguir este caminho de flores! Elas são o Bogari dito no poema, flores brancas, dobradas, muito perfumadas, e bagas pretas. Nos levarão até o local que precisamos chegar para prender a gema!
O sol começava a ressurgir lentamente do eclipse misterioso, ao tocar as folhas, os raios solares provocavam o murchar das pétalas.
– Precisamos alcançar o final deste caminho antes que o sol saia do eclipse, pois segundo o poema, ao nascer do dia, o vento levará o leito de folhas, e assim não teremos como impedir o poder da gema.
Eu não tinha condições de correr, mas o clérigo estendeu sua mão e amenizou minhas feridas, minha respiração não era mais ofegante, parecia que minhas costelas tinham sido restauradas. Fomos correndo então, não compreendia nada das palavras do ranger, mas senti confiança na forma como ele falou. Percebi que a medida que caminhávamos, a gema nos acompanhava, assim como a rachadura no espaço que se movia, como se elas estivesse nos seguindo.
Chegamos próximo a uma grande árvore, o local parecia com o ponto de encontro de Ivellios com a elfa, na floresta do dia anterior. Próximo a suas grandes e expostas raízes, vimos um tapete de folhas verdes e, em cima dele, duas estátuas de pedra, uma delas era de um humano ajoelhado. Da forma como estava parecia como que se ele estivesse pedindo para desposar a outra estatua. Jôjô havia me contado que muitos humanos fazem isso para conquistar suas mulheres. Quanta frescura! A outra estátua era de uma elfa e estava de pé diante do humano, ambos estavam com as mãos prestes a se tocar.
Nesse momento, Ryu se aproximou das estátuas e começou a dizer mantras, os seus olhos ficaram brancos e sua feição mudou, os músculos da face relaxaram como se ele não estivesse mais lá. Ao voltar de seu breve transe, ele disse o que viu: um local com nuvens, uma luz branda vinda de todas as direções, sete anjos estavam ajoelhados diante do clérigo do nosso grupo, ele disse que escutou a voz de sua mãe dizendo que era hora de escolher como aprisionar o fragmento da alma de Tiamat, a gema do caos. Ryu, lembrando-se das sete virtudes que recebemos, disse que chamou pela humildade e que os anjos não reagiram ao seu chamado, retornando assim de seu transe.
Assim que ele terminou de relatar o que vira, o espaço rachado próximo a gema do caos se rompeu para de dentro dele sair um dragão verde filhote, o fato de ser tão jovem não o impedia de nos fitar com extrema ameaça. Não estávamos na melhor das situações, mas eu estava disposto a defender meus companheiros!
Donovan com agilidade pegou sua lira e tocou uma canção.
– Inspire-me, fantasma da ópera…
Ele fechou os olhos e um segundo depois de tocar os primeiros acordes, consegui ver nos olhos do dragão um pânico inesperado, ele levantou voo e fugiu como ser estivesse sendo perseguido por alguma coisa.
– O dragão deve ter aparecido em resposta a escolha errada da virtude – disse Ivellios. – Devemos pensar em qual das virtudes realmente trancará a gema, tudo isso aconteceu, supostamente pela traição que Dyson cometeu. Portanto acredito que a Luxuria tenha influenciado toda esta trama. Qual a virtude que é contrária a Luxuria?
– Castidade – disse Donovan.
Todos concordamos com a perspicácia dos nossos companheiros elfos. Ryu mais uma vez se concentrou, tentando estabelecer novo contato com o além. Nesse momento, podemos ver que Ryu começou a brilhar, na sua mão surgiu a virtude brilhando cheia de poder, lançando uma grande energia no local, sinto minha mente saindo do meu corpo. Fomos mandados para um outro plano, mas continuávamos vendo o local onde estávamos, as estátuas começaram a se transformar em pessoas, o humano, agora reanimado, se aproximou da elfa como se fosse beijá-la. Mas ele interrompe sua intenção, dizendo a elfa que não poderia unir-se a ela, pois ele já havia firmado um compromisso. Ele então pede perdão e corre para as águas do litoral, a elfa aparentava tristeza, mas conseguiu dizer que ela compreendia a situação do humano, ela então transforma-se em um uso e adentra a floresta densa.
Para nosso espanto, o filhote de dragão verde que estava longe de nós, começa a crescer para um tamanho colossal enquanto nascem mais 7 cabeças de sombra, porém antes que ele pudesse nos alcançar, mesmo em outro plano, luzes douradas o cercam, formando um imenso globo de luz, envolvendo todo o dragão. As sombras desaparecem e somos tragados de volta aos nossos corpos no plano material, parece que estamos na praia onde aparecemos pela primeira vez e sentimos a terra tremer, parecia que os desafios não tinham fim.
Eis que do solo, próximo ao mar, brota uma estátua de um anjo colossal segurando uma gema verde gigantesca e dentro dela, uma estátua de um dragão verde. Donovan então fala:
– Vou contar histórias sobre esta estatua… cara agente fez uma estátua!
Eu sinto o meu corpo um pouco distante, o espaço começara a mudar mais uma vez, somos envolvidos por um turbilhão de pergaminhos, vemos livros, não estamos mais nas ilhas Moonshae. Agora estamos diante de Alustriel, que satisfeita nos diz:
– Parabéns aventureiros, o primeiro desafio foi cumprido com êxito.