Contos

Conto de Joseph – Capítulo 9 – A Queda da Pirâmide

Narrado pelo escriba Joseph  (Guerreiro humano – Jogador José Iran da Silva Filho  – estudante do 3º ano do curso integrado em informática do IFPB Campus Cajazeiras)

Aventura do dia 31 de maio de 2017 no projeto RPG na escola, coordenado pelo professor.


A misteriosa caveira em chamas negras invocou uma versão tosca e mumificada de Ryu que veio em nossa direção, então enquanto eu e Goiki seguravámos o verdadeiro Ryu, sem saber exatamente o que fazer, disse para o bardo:

– Vamos Donovan! Você que é bom nisso, vamos lá!

– Ousa me desafiar? – gritou Donovan enfurecido.

– Mestre, estou apenas seguindo suas ordens, afinal de contas era para isso que as vítimas estavam vindo aqui, para ressuscitar uma parte do avatar de Vecna, não é isso? – gemeu a caveira misteriosa com um olhar de dúvida.

– Eu mesmo quero ter o prazer de estripá-lo – disse Donovan com um ar de sadismo, se não soubesse que estava encenando poderia jurar que havia se voltado contra nós.

Donovan sacou sua espada em direção a Ryu sem tirar os olhos da caveira.

-Seu sangue cairá pela minha espada!

-Tudo bem, mestre.

-Volte para o seu sono e a múmia para seu sarcófago,

-Vamos! Venham para meus aposentos – disse Donovan voltando seu olhar para nós.

Logo que saímos da sala a caveira voltou a sua forma inicial, suas chamas se extinguiram e passou apenas a flutuar no meio da sala. “C O M U M, só mais um dia comum”, é o que eu penso.

– Ryu, você está bem? – perguntou Donovan com um leve tom de preocupação.

– Estou vivo, é o que importa.

– Tudo bem. Vocês continuem segurando ele, nunca se sabe quando um inimigo pode aparecer.

Alguns passos depois, encontramos um escadaria a nossa frente e Donovan logo disse:

– Goiki, acho que seria melhor você ir na frente.

Goiki subiu e logo acenou para que o seguíssemos. Ao subir as escadas nos deparamos com uma grande janela do lado direito e a visão que mostrava não era bela, muito pelo contrário, era horrenda. Vários escravos carregavam blocos de gelo enormes, eram chicoteados por orcs que grunhiam e rugiam, a imagem de um lugar flagelado, sem esperança. Apesar disso continuamos nosso caminho, enquanto eu pensava como libertar todos aqueles escravos, será que conseguiríamos? Eram muitos orcs armados lá embaixo.

Seguimos a escadaria até nos depararmos com uma porta, Donovan tomou a dianteira e a abriu. Era um local cheio de livros, plantas, mapas, uma lareira e, dentre várias coisas, uma poltrona onde estava o clérigo, aquele ser caridoso que ajudava o povo sofrido da província não passava de um farsante!

– O que estão fazendo aqui!? Intrusos! – exclamou o clérigo ao ver Donovan que respondeu de imediato.

– Ora, ora, ora, o que temos aqui, parece que eu estava certo no fim das contas, sua presença aqui o torna um inimigo, lamento meu caro – ao dizer estas palavras Donovan então tocou sua flauta, desenhos de partituras começaram a dançar da flauta em forma brilhante e logo transformaram-se em setas que voaram em direção ao clérigo atingindo-o.

– Energúmeno! Você pagará por isso!

O clérigo começou a recitar e fazer gestos, então uma aura misteriosa surgiu ao seu redor, com mais alguns gestos sua armadura começou a emanar algum tipo de brilho sombrio e macabro quando todos entrávamos na sala.

– Eu não preciso batalhar contra você, contra nenhum de vocês, vocês não tem a vontade necessária para me atacar.

– Heh! Não tenho vontade é? Deixe-me lhe mostrar o que eu tenho – avancei em direção ao clérigo e sua aura maligna tentou entrar em minha mente, mas fui forte! Segui e golpeei! Firmei meu pé direito a minha frente e com o efeito da rotação apliquei um corte no peito do clérigo e, sem perder o movimento, coloquei meu pé esquerdo na frente, mudei a posição de minha espada e novamente, com minha rotação para dar mais força ao impacto, dei outro golpe no clérigo – Estilo do Urso Feroz! As Garras Da Morte!!

Quase ao mesmo tempo, Ryu lançou sua chama em direção ao inimigo, porém o clérigo conseguiu desviar da chama, já Goiki aparentou entrar em sua fúria e que iria golpear o clérigo com toda a força, porém acho que aquela aura maligna que rodeava o clérigo o afetou e ele não conseguiu atacar.

– Mentes fracas não conseguem me atingir – disse o clérigo maligno com um ar de superioridade.

– Não fique abalado Goiki! – Donovan exclamou –  Com sua força sei que isso não é nada pra você! – tentou tocar sua flauta porém novamente a aura do clérigo pareceu afetar o bárbaro impedindo-o de seguir seu plano.

O clérigo então, com pura ousadia, passou por todos nós como se não fossemos nada.

– O que pensa que está fazendo? – disse ao atacar enquanto ele passava por mim.

Mas ele continua.

Goiki finalmente conseguiu golpear, porém o clérigo continuou.

Quando enfim passou pelo bardo, pareceu debilitado com os ferimentos, pois começou a utilizar magias de cura e parte das feridas cicatrizaram.

Ele continuou seu trajeto até chegar na porta por onde entramos, passando por ela e a trancando.

Corri até a porta na intenção de derrubá-la, mas antes percebi algumas farpas na maçaneta, “pode ser uma armadilha”, pensei enquanto Ryu tentava magias para abrir a porta, sem sucesso, e Goiki com toda sua fúria a despedaçou, porém assim que a maçaneta tocou o chão explodiu cobrindo o bárbaro com espinhos.

No final da escadaria, notamos o clérigo maligno e, antes que saísse do nosso campo de visão, Donovan disparou seus projéteis mágicos. Ele não pareceu se abalar e continuou.

Persegui o clérigo, mas o caminho da escadaria foi bloqueado por uma parede de gelo vinda do teto. A golpeei mas ela ainda não quebrava, era muito espessa, Goiki surgiu ao meu lado e, ignorando os espinhos, com toda sua força quebrou a parede de gelo quebrando-a.

Não víamos mais o clérigo

– Covarde!! – gritei.

Ryu e Donovan vieram ao nosso encontro dizendo que haviam encontrado a planta da pirâmide e também um pergaminho misterioso sobre o qual Donovan utilizou suas magias para compreender o que estava escrito, também pegou alguns dos livros que estavam na biblioteca.

Disse a todos que não seria prudente enfrentar o clérigo naquela sala que antecedia a longa escadaria onde estávamos, lá ele teria muitos aliados já que estava repleta de sarcófagos.

Goiki, em um ato de pura confusão mental, acredito eu, quebrou o vidro que servia de janela para ver a área externa a pirâmide. Com isso fomos avistados pelos orcs que gritaram e se dirigiram ao interior da pirâmide para nos localizar

– Por Vecna!! Por que você fez uma coisa dessa!? – perguntou Donovan.

– Por Loth!! Como é que você diz uma coisa dessa?! – respondeu Goiki.

– Parem de citar de Deuses! Temos que sair logo daqui! Será difícil deter todos eles!

Nosso único caminho de volta era passando pela sala circular da caveira e lá vários inimigos nos aguardavam nos sarcófagos, incluindo a cópia maligna de Ryu.

– Sinceramente, não vejo outra opção, temos que enfrentar a caveira -concluiu o bardo.

– Acho que nossa única opção é fugir e correr direto por eles, para a saída, mas poderemos sofrer vários ataques.

– Tempos desesperados pedem medidas desesperadas! – Donovan então sacou sua espada e saiu em disparado pelas escadas.

Fomos todos atrás dele, porém no meio da escadaria sentimos um frio gélido vindo de uma das paredes. Em seguida vimos um bloco se deslocar, revelando uma passagem secreta por onde uma humana surgiu dizendo:

– Esperem, venham por aqui… – ela apontou para o pequeno túnel para onde a parede se abria.

– Bem eu acho que não temos muitas opções – comentou Ryu.

– Concordo, acho melhor irmos com ela – completou Donovan.

-Podem seguir direto – diz a mulher que vestia trajes semelhantes aos dos escravos que vimos antes.

-Quem é você?

-Sou Asta, meu irmão entregou a vocês uma gema, não foi?

-Seu irmão? Ah sim, muito diligente, agradecemos por sua presteza.

– Ele foi um guerreiro outrora habilidoso, mas após ser massacrado ano a ano nos calabouços da pirâmide perdeu seu brio.  Éramos mercenários em outro tempo, mas venham, sigam-me, este caminho os levará até meu irmão e aos outros líderes da rebelião que estamos planejando, talvez vocês sejam a motivação que faltava para não desistir de escapar deste pesadelo congelado.

Continuamos nosso caminho e mais a frente, vimos uma pequena sala aonde estavam outros escravos escondidos: o homem que nos deu a gema, um ancião, dois elfos e um halfling. Estavam sentados em uma pequena mesa improvisada. Nela havia uma cópia da planta da pirâmide, igual a que Donovan encontrou na sala do clérigo maligno.

– Foi bom vocês chegarem, sua vinda nos deu uma nova esperança – disse o ancião.

– Lathander traz boas novas a cada amanhecer, nunca percam sua fé em dias melhores – emendou Ryu.

Donovan sacou sua espada e a ofereceu ao irmão de Asta.

– Bom, acho que você precisará disso meu caro, provavelmente teremos mais batalhas nos tempos que se aproximam.

O homem agradeceu pegando a espada e olhou para Goiki com sua cimitarra, dando uma pequena risada sarcástica.

– Eu também aceito a cimitarra de bom grado…

– Irmão, eles vieram aqui nos dar liberdade, é mais que o suficiente – falou Asta.

O ancião os interrompeu e começou com sua voz já cansada a falar:

– Precisamos nos focar… cof! cof!… Temos que acabar com isso.

Ele pegou um papiro e com sua mão, trêmula, mas convicta, começou a rabiscar.   – Temos a planta da pirâmide e sabemos que ela é sustentada por esses pilares… cof! cof!… Sabemos que eles não são tão fortes quanto aparentam, pois dependendo da força que se aplique neles, irão fazer com que toda a estrutura desmorone. Cof! Cof!

– Permita que eu continue a explicação meu bom amigo – disse um dos elfos.

– Prazer em conhecê-los, sou Kalin da terra dos vales. Podemos aproveitar uma rampa que conecta a torre de observação dos orcs com o cume da pirâmide. Ela não serve apenas como sustentação e transporte de materiais, tem outro propósito que os tolos orcs não perceberam. É forte o suficiente para erguer uma grande pedra que os anões nos ajudaram a moldar, entretanto, não temos uma alavanca resistente o bastante para erguê-la, só nos resta saber como fazer para suspender essa pedra da forma a arremessá-la para dentro da pirâmide, por uma das passagens que conecta todas os principais pilares de sustentação.

Nisso, o outro elfo completou…

– Além disso precisamos de algum mecanismo que possa erguer a pedra, talvez um sistema de polias… vi algo parecido com alguns colegas da academia de bardos. Precisaremos de alguém que possa empurrá-la enquanto ela estiver suspensa no ar.

Então o caderno que Donovan carregava começa a brilhar e  começou a desenhar vários símbolos nas páginas

 

Uti mechanica = R/F = 2n  =>  F= R/2n

 

– Esta é a fórmula da vantagem mecânica – falou Donovan  quando o F escrito no ar se transforma em 625N e o R começa a tremular. – Creio que entendi como o caderno se comunica, é como na outra ocasião em que enfrentávamos a sereia nas ilhas Moonshae. Qual o peso da pedra a ser erguida?

– Aproximadamente 1 tonelada – respondeu o irmão de Asta.

– Hum, se considerarmos que R é a resistência que a pedra proporcionará juntamente com o efeito da força da gravidade… Vejam! O caderno está se comunicando conosco!

O R se transforma em massa x gravidade e cálculos começam a ser feitos no caderno mágico, finalizando com um desenho.

625N = m.g/2n => 2n = 1000×10/625 => 2n = 16 => 2n = 24 =>

n = 4 Mobilis Machinas

 

 

– Pelo desenho podemos entender que machinas se referem as polias como eu havia pensado. Quanto maior a quantidade de polias menor a força que precisaremos aplicar para erguê-lo.

O Halfling então copiou o desenho do sistema de polias, abriu um compartimento secreto e colocou o desenho nele.

– Pronto agora, nossos amigos artesãos irão construir este sistema de polias para que possamos usá-lo.

Em seguida o ancião pegou um pedaço de carvão e começou a escrever no canto de seu papiro.

– Humm, mas precisamos de alguém que aplique uma força de 625N para erguer a pedra… se considerarmos que a força da gravidade for 10, aplicando na fórmula da força que é Fp = m.g, então 625 = mx10, o que nos dará uma massa de 62,5kg, então precisamos de alguém que tenha esta massa para pular da rampa que interliga a torre de observação e o ápice da pirâmide, erguendo a pedra.

– Não poderia ser alguém mais pesado? Eu poderia fazer isso!! – rosnou Goiki.

– Se aplicarmos uma força maior que  625N, a pedra pode subir muito rapidamente de forma a danificar o sistema de polias sugerido por Donovan.

– Então acho que eu posso fazer isso – disse o pequeno e rechonchudo halfling no canto da sala.

Enquanto olhava para aquele sujeito baixinho e fora de forma faeli:

– Será mesmo que você consegue fazer isso pequenino? Acho que não está com seus exercícios em dia, não?

Ele olhou pra mim e deu um salto por cima da minha cabeça parando suavemente do outro lado da sala.

– Isto responde sua pergunta guerreiro? Heheh. Faço qualquer coisa para comer dos doces da minha tia na terra dos vales novamente, nham nham.

– E o que acontece se alguém mais pesado pular?  

– Você não ouviu o velho? – repondeu o irmão de Asta. – Se alguém mais pesado for pode quebrar os dispositivos e estragar o plano todo, a pedra tem que tá aqui – disse enquanto apontava para o desenho. – Bárbaros sempre sendo bárbaros…

– Mas apenas erguer a pedra não adianta- interrompeu um dos elfos.   

– Precisamos de alguém para empurrá-la, movendo-a até o ponto em que possamos cortar as cordas liberando o rochedo dentro da passagem que dá acesso ao subterrâneo da pirâmide.  

– Mas como? A pedra vai estar a uns 10 metros do chão nessa hora.

– Alguém tem que quebrar a parede por onde a pedra vai entrar – eu respondi.

Então Asta disse que a passagem já estava aberta, porém, para não despertar a atenção dos orcs, permaneceu camuflada e ela continuou:

– Alguém poderia se lançar da janela amarrada em uma corda e empurrar a pedra até o ponto onde a corda será rompida – apontou para o ponto de impacto.

– Será que não dá para empurrá-la com magia? – perguntou Ryu.

– Que truque arcano poderia?

– Divino pra ser sincero. Tenho uma onda trovejante, mas acho que isso poderia comprometer a estrutura da pedra.

– Precisamos também saber se esta distância em que a pedra ficará suspensa é suficiente para que, após movida, alcance o ponto de impacto. Temos que saber a distância correta! – interpelou o irmão de Asta.

Donovan olhou meio assustado pelo lampejo de ideias do rapaz enquanto dizia:

– Boa observação! A propósito, como se chama meu caro?

– Chamo-me Zôra.

– Acho que sei como – disse o ancião com uma tosse. – Se soubermos a velocidade da pessoa que salta no momento em que ela chega na pedra, poderemos saber, pela energia cinética liberada, o deslocamento da mesma e por conseguinte, a qual distância ela deve estar.  

Com a fala do Ancião, o caderno começou a demonstrar seus poderes novamente e a fazer novos símbolos:

potential navitas circumstnatiis exerente = Ep = mgΔh

Hanc in motu navitas = Ec = mv2/2

– Precisamos então saber a velocidade, a energia potencial gravitacional se transforma em energia cinética no momento do impacto – Donovan constatou. – Esse ΔH deve ser a variação da altura, da janela até a base da pedra suspensa.

– 10 metros.

Respondeu uma escrava e, assim que ela o disse, o H mudou de uma letra para o número 10, então Donovan fez os cálculos e resolveu a equação dizendo que o resultado era de 14 metros por segundo.

 

Ep = Ec => mgΔh = mv2/2 => gΔh=v2/2 => V2= 2.g.Δh => V2=2.10.10 => V2 = 400 => V = 14m/s

 

– Então a pessoa tem que alcançar 14m/s para bater na rocha – concordou  Asta.

– Posso fazer – completou Zôra. –  Eu me infiltro na torre dos vigias se tiver cobertura.

– Quanto pesa? – perguntou Donovan

– 70kg.

– Então se levarmos em consideração a energia cinética com a qual Zôra chega na pedra… essa energia será então transferida e saberemos com qual velocidade a pedra irá se deslocar! Isso nos ajudará a descobrir a que distância da entrada camuflada da pirâmide ela deve ficar suspensa – concluiu Donovan enquanto o caderno, mais uma vez, brilhava.

 

Ec Zora = Ec Pedra  => mzora.v2zora/2 = mpedra.v2pedra/2   => 70×142 = 1000 .v2pedra

v2pedra = 70×196/1000 => v2pedra = 13,7 => vpedra = 3,7m/s

– Então a pedra sai com uma velocidade de 3,7 metros por segundo. Considerando que a pedra se desloca em um movimento oblíquo, temos que:

 

Velocidade da pedra = distância percorrida . raiz quadrada da gravidade/2Δaltura

Logo, 3,7 = Distância x raiz de 0,5 => Distância = 3,7/0,707 => Distancia = 5,23m

– É isso! A pedra deve ser erguida a 5,23 metros da abertura da pirâmide.

– Este pergaminho o ajudará a deixar a pedra escorregadia cof! cof!… o suficiente para deslizar pelas rampas internas da pirâmide, provocando uma maior velocidade e potência para quebrar seus pilares subterrâneos.

– Mas como partiremos a corda fazendo com que a pedra caia na abertura? – perguntou Kalim.

– Eu posso providenciar isso – respondeu Ryu.

Tínhamos um plano enfim: enquanto eu e Goiki mantemos os orcs ocupados, o halfling pula para utilizar o sistema de polias e erguer a rocha, então Zôra salta da janela dos vigias, empurrando a rocha. Com isso Donovan lança a magia de área escorregadia do pergaminho ao mesmo tempo em que Ryu queima a corda que a segura e, assim, a esfera acerta em cheio a entrada camuflada da pirâmide.

– Bom temos que executar o plano agora cof! cof! Não haverá hora melhor já que a maioria dos guardas estão no encalço de vocês dentro da pirâmide! – disse o velho escravo.

Todos nos preparamos e saímos indo em direção ao pátio externo da pirâmide. Antes de sairmos o ancião nos desejou sorte e seguiu por outro caminho junto a um dos elfos para avisar aos demais escravos que o plano de fuga seria finalmente colocado em prática.

Um bando de cinco orcs ainda estavam no pátio, eu e Goiki nos posicionamos a frente e nos preparamos para a batalha. Ryu e Donovan estavam perto da rocha, enquanto o Halfling, Asta, Zôra e Kalin partiram em direção a torre de vigia. Ryu lançou sua chama em um dos orcs, mas então Donovan gritou algo em goblinóide e os orcs, supreendentemente, responderam a ele. Mais uma vez nosso bardo usou seu talento em blefar para enganar nossos inimigos.

– Bem, acho que não precisaremos lutar Goiki.

Em cima da torre, indo para as barras que iriam sustentar a rocha estava o halfling meio gordinho andando trêmulo.

– Ahh… acho que vou cair, isto está mais alto do que imaginei.  

– Não tenha medo meu caro você é um halfling! – encorajou Donovan ao halfling.

– Halflings não foram feitos pra isso! – respondeu ele com pavor na voz.

– Lembre-se do doce! O doce da tia! A tia não vai te dar se você não levantar a pedra!

Então o Halfling tomou coragem e chegou até o meio da rampa suspensa entre a torre e a pirâmide, instalou o sistema de polias e saltou gritando seu brado de batalha:

– Pelo doce da tiiiaaaaaa!!!

Sua trajetória de queda parecia não ser suficiente para que ele pegasse a corda, porém Donovan gritou:

– Faça isso pelo doce! Lembre que o doce é muito doce! Doce como carameloooo!

Com isso o pequeno halfling conseguiu segurar a corda, por pouco.

–Pelo doce da tia!!

E o sistema de polias começou a girar levantando a rocha enquanto o halfling descia.

– Puxa! Olha como sou forte! – ele disse. – Estou levantando uma rocha de 1 tonelada!!! Toma essa sociedade!!!

Quando a rocha alcançou a altura planejada, na janela da torre surgiu Zôra gritando.

– Onde estão os orcs?

– Não se preocupe! Já cuidamos deles! – respondi.

– Por Lathander! Que ele te dê força suficiente para mover a grande rocha! – disse Ryu.

Então Zôra pegou uma besta, mirou no ponto médio da rampa suspensa, com um tiro certeiro fincou o virote com cordas, amarrou a outra extremidade desta em sua cintura e pulou. Com um chute na pedra provocou o impulso necessário para que ela se movesse, com isso Donovan pegou o pergaminho e começou a cantar.

– Este é um pergaminho, seu poder é divino com uma magia escorregadia, esse é o espírito! Agora o local que desejo será oleoso sem pestanejo e que a magia o atinja!

Com essas palavras pequenos peixes alados e espectrais saíram do pergaminho e voaram em direção a pedra, ao tocá-la se transformaram em ondas que envolveram todo o pedregulho. Neste momento a pedra pareceu alcançar o ponto exato para ser jogada na entrada oculta da pirâmide.

-Vamos clérigo use sua magia! – gritou Asta da janela na torre de vigia.

A pedra estava chegando no limite da corda e se Ryu não destruísse a corda a bola não cairia, frustrando nossos planos. O clérigo começou a juntar a energia oriunda de seu deus para lançar a magia, seu cajado brilhou e ele lançou sua chama na corda destruindo-a! Conseguindo fazer com que a grande rocha caísse no local de impacto.

A rocha entrou na pirâmide e iniciou a descida pela rampa, destruindo os pilares de sustentação um por um, escravos começaram a fugir e a pirâmide a sucumbir pedaço a pedaço, até desmoronar por completo.

– Isso que dá fugir! – grito para o clérigo maligno que acreditava ter sucumbido junto com a queda da prisão de gelo.

Só restavam destroços. Entretanto, parecia que ainda não tínhamos finalizado nossa missão ali por completo.

O chão começou a tremer e diante de nós apareceu um sarcófago com algo que parecia uma estátua de lich gravada em sua tampa, a imagem segurava um livro de pedra em seu peito. Logo começaram a cair cristais de gelo no livro de pedra que formavam hieróglifos reunidos em quatros estrofes. Ao lado de cada estrofe, havia um espaço côncavo, como se fosse destinado ao encaixe de alguma coisa.

Donovan pareceu pensativo e nos disse que os hieróglifos se referiam ao mesmo poema que encontramos naquela caveira dourada que estava junto dos bandidos antes de entrarmos na pirâmide.

Eu, filho do carbono e do amoníaco,

Monstro de escuridão e rutilância,

Sofro, desde a epigênese da infância,

A influência má dos signos do zodíaco.

Produndissimamente hipocondríaco,

Este ambiente me causa repugnância…

Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia

Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme — este operário das ruínas —

Que o sangue podre das carnificinas

Come, e à vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,

E há-de deixar-me apenas os cabelos,

Na frialdade inorgânica da terra!

Donovan colocou sua gema azul dada por Zôra em um dos buracos, os olhos do sarcófago brilharam e do chão brotou uma múmia que tentou atacá-lo. Donovan porém se afasta e a joia volta voando para sua mão. Ryu agiu e pegando sua joia marrom, recebida do Espectador, a coloca no último espaço que pertencia a quarta estrofe:

– Acho que as cores das gemas se referem a alguma parte das estrofes, como a última fala em terra, acredito que é aqui onde a gema se encaixa.

Ao colocar a gema marrom, os hieróglifos brilham e desaparecem junto dela.

A múmia que apareceu tentou atingir Ryu sem sucesso. O clérigo então tentou expulsar o morto vivo, mas também não teve êxito em sua ação. Eu me preocupava em desvendar logo aquele enigma, pois mais múmias podiam aparecer, coloco a gema que eu estava carregando, uma verde, a qual peguei de uma das múmias que enfrentamos e coloco aonde Donovan me sugeria, na segunda estrofe que falava da ânsia de vômito.

Os hieróglifos brilharam e então desaparecem novamente.

Peço para Donovan tentar mais uma vez colocar a gema, mas na terceira estrofe que falava do verme, pois enfrentamos um gigantesco verme azul. Ele acreditou em minha observação pois colocou a gema onde indiquei e mais uma vez conseguimos acertar.

Entretanto, a primeira estrofe estava sem gemas, pois não tínhamos mais nenhuma conosco. Os hieróglifos tomaram um tom escurecido e começaram a rachar junto com o sarcófago, quando pensamos em correr dali, uma enorme explosão aconteceu e fomos tragados para dentro da terra gélida. Conseguimos sobreviver graças a música do nosso bardo que nos fez flutuar antes que atingíssemos o chão subterrâneo.

Quanto tentávamos descobrir onde estávamos, escutamos um rugido, e do meio da fumaça, um grande dragão branco surgiu ávido em nos atacar…

 

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