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CNa#013: CdD-E04 – Guilhermina | Vinicius Watzl

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RPG Next apresenta… Crônicas de Damocles – Episódio 04 – Guilhermina.

 

   ATENÇÃO: Esse podcast é recomendado para maiores de 14 anos.

 

Bem vindos às Crônicas de Damocles, uma série de aventuras gravadas que se passa no mundo de Damocles:O início, um mundo de aventura onde a fantasia e a ficção científica se misturam.

 

damocles logo pequeno

 

mapa de damocles

 

 

Crônicas de Damocles: Episódio 4 – Guilhermina

Narrador:

Bem vindos a mais um episódio das crônicas de Damocles. Neste episódio acompanharemos o último episódio, por enquanto, com o Cascadura de Bragança. Nesse episódio teremos uma história de amor e vingança, de heroísmo e vilania, e da inacreditável sorte de Gusmão.

Gusmão:

Som! (ruídos de cacofonia de músicas misturadas com estática) Som! Som? Droga, acho que o sistema de som quebrou. (Gritando) Dona Maria! A senhora está aqui?

Maria:

Aqui senhor Gusmão. O senhor precisa d alguma coisa?

Gusmão:

Perdoe-me Dona Maria, mas o som ambiente parou de funcionar novamente. A senhora mexeu nele?

Maria:

O senhor sabe que eu não mexo nas suas coisas dos milagres senhor Gusmão.

Gusmão:

Tudo bem dona Maria. Algum recado? A caixa de mensagens também não anda muito boa ultimamente…

Maria:

O Tenente, quer dizer, capitão Caio mandou avisar que vai hoje à noite à apresentação no Cabaré. O senhor não devia ir a esses lugares senhor Gusmão… O senhor é uma figura respeitável…

Gusmão:

Bobagens Dona Maria. Lá é um lugar tranquilo. A senhora pode me trazer aqueles remédios que o doutor Tadeu me indicou? Estou com um pouco de dores nas costas.

Maria:

O senhor deveria orar para Atala. A deusa das curas nunca desampara os fiéis.

Gusmão:

O doutor é bem intencionado. E, pelo que sei trabalha com os alquimistas de Tuliéres.

(som de explosão)

Espere! O que foi isso?

Narrador:

Gusmão se lança correndo para a porta. Que, ao se abrir, revela uma cena triste. No corredor que leva até a sua casa um grupo de pessoas encontra-se acuado no chão. No centro desse corredor, uma grande onda de fogo está contida numa esfera azul que emana da parede Onymariana. Os sistemas de contenção de fogo da cidade ainda estão, felizmente atuantes. A esfera azul se mantem por alguns instantes, circunscrevendo um inferno de chamas, que em poucos instantes, sem oxigênio começa a encolher. A esfera então vai reduzindo de tamanho rapidamente, levando consigo o calor e fazendo com que a energia da explosão seja absorvida pelas paredes Onymarianas que brilham, mais limpas do que nunca. (efeitos de campo de força)

Gusmão:

(sons de multidão)

O que houve aqui?

Transeunte 1

Foi um daqueles fanáticos!

Gusmão:

Os olhos de Plutônium?

Transeunte 1

Creio que sim. Ele gritou antes de se explodir: “Por Koltron”

Gusmão:

Era um koltrano?

Transeunte 1

Não pude ver senhor. Foi tudo muito rápido. Graças a Onymar! As paredes invencíveis nos salvaram.

Narrador:

Gusmão segue apressado para a sede da guarda imperial. A explosão tão próxima de sua casa o deixou preocupado. Alguns koltranos têm sido vistos portando bombas em Bragança, protestando contra as condições de escravidão de seus pares. Os koltranos são os inimigos antigos dos humanos, e são, alguns, escravizados em terras humanas. Acontecendo o mesmo com os humanos nas terras koltranas. É claro que existem em todos os lugares Humanos e koltranos livres. Mas o descontentamento principal que acontece em Bragança é pelo fato de o rei Pedro ter abolido a escravidão humana, mas não ter conseguido abolir a koltrana apesar de seus esforços. Gusmão chega à sede da guarda real. (som de portas se abrindo) Uma vez lá, pode ver um soldado cantando para uma mulher. É recebido por esse soldado. O soldado 496…

TRECHO GRAVADO DO 496

 

Caio

Bem vindo Gusmão. Que bom que você veio. Vamos, entre.

Gusmão

Por que me chamou aqui?

Caio

Vou ser franco Gusmão, desde que você prendeu o Moita há alguns anos atrás, a Família desapareceu. Nós pensamos que eles teriam desistido de suas atividades. Como se algo tivesse acontecido para que esses criminosos desaparecessem. Eu pensei que você, provavelmente teria algo à ver com isso. Mas você nunca me falou nada. O que acontece é que recentemente alguns necromantes vieram à Bragança. E, com eles, as atividades criminosas da família parecem ter voltado.

Gusmão

Eu não entendo. Os necromantes não são legalizados e liberados pelo estado? Eles não prestam serviços que, de certa forma, diminuem a necessidade da escravidão?

Caio

Sim. E é esse o problema. Eles são poderosos demais, são entranhados no sistema, e, com as políticas do Rei Pedro, da emancipação de todos os escravos humanos, acabaram por se tornarem meio essenciais. Você sabia que alguns nobres estão usando servos esqueletos cobertos com uma resina plástica? Eles se parecem, ao longe, com seres humanos normais, mas são, na verdade os servos mortos vivos dos necromantes que, com essa cobertura, passam despercebidos.

Gusmão

E qual é o problema disso? Pelo menos não temos de olhar para esqueletos animados fazendo os trabalhos da cidade.

Caio

Sim. Mas eu estou lhe falando isso por um outro motivo. Os assassinatos.

Gusmão

Que assassinatos?

Caio

Eu pretendia encontrá-lo no cabaré hoje à noite, mas já que veio aqui vou lhe contar. Há três dias foi morto o senhor Miguel Navere. As testemunhas falaram que um homem estranho, que não falava nada, veio encontrá-lo no cabaré. E o espetou com uma espada antes que quaisquer pessoas pudessem fazer o que quer que fosse. Mesmo os seguranças de Navere. Esses o atacaram, mas, apesar de ter sido perfurado por espadas, e, até por armas de fogo, daquelas dos piratas, ele continuou andando e saiu. Matando outros que ficaram em seu caminho. Ah. Não havia sangue, exceto o de Navere.

Gusmão

E você acha então que pode ter sido um desses esqueletos cobertos.

Caio

É o que eu imagino. Mas não temos provas.

Gusmão

E o que quer que eu faça?

Caio

Hoje à noite vai haver a apresentação de Guilhermina, a nova dançarina no cabaré. O irmão de Miguel, Thiago, vai estar lá. Tememos que possa ser atacado também.

Gusmão

Quer que eu fique de guarda-costas dele?

Caio

Claro que não! Isso seria um desperdício de recursos preciosos. Queremos que converse com o irmão dele. E tente descobrir se ele tem algum inimigo entre os necromantes.

Gusmão

Você havia falado em assassinatos…

Caio

Sim. Navere não foi o primeiro. Encontramos outros nobres assassinados, mas ele foi o primeiro dos recentes crimes cujo assassino foi visto.

Gusmão

Entendo. Vou ver o que posso fazer. Mas preciso aproveitar da oportunidade para avisá-lo. Creio que voltaremos a ter problemas com os olhos de Plutônium. Hoje antes de vir para cá, houve uma explosão que foi contida pelas paredes Onymarianas, e, felizmente, só feriu o atacante.

Caio

Os koltranos são estranhos. Aqui lhes entregamos todos os tipos de liberdades. E o Rei é totalmente justo com eles. Mas, ainda assim eles se acham superiores a nós e querem a nossa destruição.

Gusmão

Sim. E, é uma pena que isso aconteça. Não fossem esses ataques, creio que o rei teria conseguido a libertação dos escravos koltranos também. Vou indo então Capitão. Vou ver se consigo resolver isso.

Narrador

Gusmão sai da sala da guarda, despedindo-se do soldado que contava mais uma de suas histórias para a moça que o acompanhava. Enquanto anda pelos corredores de Bragança, nosso herói vai tentando traçar um plano de ação. Quando afugentou o Fuinha há tantos anos, ele sabia que algum outro grupo tomaria o lugar da família. Claro que não foi fácil afugentar todos. O próprio fuinha saiu naquele mesmo dia e nunca mais foi visto em Bragança. Mas o desmantelamento da organização criminosa tomou um tempo considerável de Gusmão e do, então, tenente Caio. Foram anos de trabalho, trabalho árduo. E tudo isso pode ter sido posto a perder. Gusmão ainda não sabe, mas o mal está sempre presente, e, se manifesta das mais diversas formas. Agora se faz necessário se preparar. Rapidamente nosso herói se dirige para sua casa. A missão dessa noite no Cabaré será diferente das habituais. Tudo indica que ele terá de se valer de sua astúcia ao invés de sua perícia de batalha. Dentre as coisas que separa para levar, Gusmão traz sua espada, pois ele, como portador da gema da ordem terceira do Paço Real Bragantino, tem o direito de portar armas onde for, mesmo no interior da cidade e prédios do governo, à exceção da presença do próprio rei. Traz também sua lanterna ancestral. Não sabe se precisará sair da cidade. Leva sua armadura leve de couro, não a de Rur, de melhor qualidade, mas a de couro batido, que fica bem por sob a roupa. A roupa ele veste seu antigo traje de festas, que consiste numa camisa folgada de mangas fofas e espalhafatosas. As calças são apertadas, mas, Gusmão as mandara preparar anos antes, com um tecido chamado “sintético” Palavra dos antigos, que, embora não fosse como as vestes ancestrais com sua proteção quase impenetrável, apresentava flexibilidade e alguma resistência a danos. Não era exatamente uma armadura, mas teria de servir. Nos bolsos da calça guardou alguns sóis dourados, pois sabe que as coisas no cabaré são caras, e num bolso oculto da camisa, quase que numa escolha ao acaso colocou além da luz ancestral uma poção de cura de Atala. Pronto para a noite resolveu aproveitar o resto da tarde para dormir um pouco. Afinal, uma longa noite o esperava.

(ruído de despertador)

Gusmão

Droga, espero não ter perdido a hora.

Narrador

Gusmão se levanta, já vestido e aprumado, dirigindo-se ao cabaré.(sons de pessoas andando em chão de metal e conversas de cidade) Conforme segue pelos corredores da grandiosa cidade vai pensando em que estratégia seguir para melhor abordar o assunto com Navere. O capitão falara de assassinatos. Seria bom se ele soubesse de antemão mais sobre isso. Mas, infelizmente, não há tempo de buscar mais informações. Ele terá d esse virar com o que já conseguiu.

Bouncer

Deixem suas armas aqui. Não é permitida a entrada com armas no cabaré.

Gusmão:

Com licença. Sou Gaspar de Gusmão, e pretendo…

Bouncer

Claro senhor Gusmão! Seja bem vindo! Não precisa se preocupar com nada. Sabemos do senhor. Venha. Entre.

Gusmão

Obrigado.

Narrador

Gusmão entra no Cabaré e pode ver ao redor diversas pessoas, Bragantinos, Imperiais, Koltranos, todo tipo de gente se divertindo às mesas de jogo, dançando, assistindo às janelas ancestrais que mostram antiquíssimas produções de danças da era dos milagres. É um misto de emoções no local. Algumas boas, como quando um casal namora num canto, outras nem tanto como quando um cliente se exaspera por ter perdido uma rodada na mesa de jogo. Gusmão retira do bolso de sua camisa, uma reprodução do rosto de Tiago Navere, que lhe fora fornecida pelo Capitão mais cedo. Ele pode ver que, sentado mais ao fundo ladeado por dois humanos e um koltrano encontra-se esse tal de Thiago Navere. Gusmão dirige-se diretamente para ele.

Gusmão

Senhor Navere, eu presumo.
Navere

Sim, Sou eu. A que devo a honra Cascadura?

Gusmão

Soube por minhas fontes que o seu irmão foi assassinado. Gostaria de ajudá-lo a prender o assassino.

Navere

O senhor é muito direto senhor Gusmão. Por que se interessou por isso?

Gusmão

O seu irmão fazia parte de certo grupo criminoso. Preciso saber se ele tinha rivais. Preciso saber as circunstâncias de sua morte, e preciso saber se houve ameaças antes do assassinato.

Navere

Não estou a par de quaisquer ligações criminosas de meu irmão. Somos uma família pacífica de negociantes.

Gusmão

Entendo. E o que negociam exatamente senhor Navere?

Navere

Providenciamos bens de difícil aquisição. Itens koltranos raros, espécimes de animais exóticos. Dentre outras coisas.

Gusmão

E por que os necromantes iriam querer matar o seu irmão?

Navere

Necromantes? Quem falou em necromantes?

Gusmão

Entendo. Como o seu irmão morreu?

Navere

Creio que é de conhecimento público. Ah! Veja. O show já vai começar.

Narrador

Gusmão se vira para o palco, mantendo Navere na sua visão periférica. A cortina se abre e Gusmão pode ver uma mulher belíssima descendo uma escada. A luz do salão escurece e um foco ilumina a cantora que executando uma dança sensual começa a cantar.

Musica

Narrador

A música termina com a dançarina/cantora sentada no colo de Gusmão, que perdera completamente a fleuma habitual.

Navere

Senhor Gusmão. Creio que nunca viu uma apresentação de nossa mais nova revelação. Essa é Guilhermina.

Guilhermina

É um prazer senhor Gusmão. Já ouvi muito de seus feitos. Jamais imaginei que um dia estaria aqui. Sentada no colo de um herói.

Gusmão

(Pigarro) É um prazer  senhorita. A sua apresentação foi de tirar o fôlego.

Guilhermina

Além de um herói, é um cavalheiro! Que gentil. (pausa) Não vai me arranjar uma cadeira à mesa senhor Gusmão? Ou estou bem onde estou?

Gusmão

(atrapalhado) Pe-perdão, é claro que vou. (Som de cadeiras se mexendo) Por favor. Sente-se aqui.

Guilhermina

Thiago, esse nosso herói é uma gracinha. Você não me avisou que ele viria aqui. Senão eu teria me arrumado melhor.

Navere

Eu não sabia que o senhor Gusmão viria aqui Guilhermina. Creio que veio discutir assuntos meio tristes. Sobre a morte de meu irmão.

Guilhermina

Pobre Miguel. Aquele Moldraz é uma pessoa muito estranha Thiago. Não confio nesses necromantes.

Gusmão

Então foi um necromante?

Navere

Guilhermina, creio que o senhor Gusmão está cansado minha querida. Por que não vai nos buscar uma bebida?

Guilhermina

Como assim Thiago?! Ora! Eu não sou sua garçonete.

Navere

(Tenso) Guilhermina. Vá. Agora.

Guilhermina

Ora bolas herói! Vai deixar que esse bufão fale assim com uma dama?

Gusmão

(irritado) Realmente senhor Navere. Não creio que seja essa uma maneira de se tratar uma dama. Peço que refreie seus instintos.

Navere

Como quiser senhor Gusmão. (som de cadeira sendo arrastada) Vou me retirar então. Creio que não temos mais nada a falar. E, Guilhermina, você sabe o que acontece com Almiraks que abrem muito a boca não sabe? Vejo que sabe. Com a sua licença senhores.

Narrador

Gusmão pode ver que a cor sumiu do rosto da dançarina com as palavras de Thiago Navere. E ela se colocou numa posição meio defensiva. O “negociante” se afastou seguido de seus guarda-costas deixando o herói e a dançarina sozinhos. Após alguns momentos Gusmão pergunta a Guilhermina.

Gusmão

Você está bem?

Guilhermina

(assustada) Creio que sim. Preciso de uma bebida. Você quer? Eu posso te trazer uma.

Gusmão

Aquilo que ele falou foi uma ameaça? Saiba que eu posso protege-la.

Guilhermina

(tentando esconder o medo) Ameaça? Não? Não. Não! Ele não me ameaçou! Hahaha. Não se preocupe. Podemos? Digo. Você poderia?

Gusmão

O que precisa?

Guilhermina

Poderia me levar em casa?

Narrador

A pergunta pega Gusmão de surpresa. Mas rapidamente ele se prontifica acompanhá-la. Ambos seguem pelos corredores iluminados da bela cidade. O vai e vem das pessoas os distrai um pouco. Gusmão não pode deixar de perceber que a jovem agarra o seu braço fortemente. Como se estivesse buscando segurança. Esse Thiago Navere é alguém muito estranho. O Capitão Caio estava certo de o levar a investigá-lo. Ao chegarem à casa da dançarina, que se encontrava num dos corredores bragantinos, ela para à porta colocando o rosto para uma identificação feita pelos milagres dos ancestrais. Uma pequena luz vermelha ilumina o seu rosto fazendo com que a porta se abra.

Guilhermina

Creio que estou segura aqui, na minha casa. Eu, tenho uma porta Onymariana. Acho que ninguém conseguiria entrar por ela não é?

Gusmão

As portas dos ancestrais são milagrosas. Acho que ninguém conseguiria forçar a entrada.

Guilhermina

É que…. Eu acho que eu me sentiria mais segura se você dormisse aqui essa noite…

Gusmão

Tem certeza senhorita? Isso não lhe seria embaraçoso?

Guilhermina

Não ligo para o que as pessoas falam. Ainda mais se pensarem que estou dormindo com uma lenda viva…

Gusmão

Eu não me aproveitaria da sua reputação senhorita. Não quero lhe causar constrangimentos…

Guilhermina

Não é exatamente por isso que eu quero que durma aqui, mas deixe-me me aproveitar da sua…

Narrador

Gusmão passa a noite na casa da Dançarina. (música de romance)

No dia seguinte Ele acorda, veste a sua armadura, deixando a jovem dormindo satisfeita, vestida com os lençóis da excelente cama. Com cuidado para não a acordar dirige-se à porta milagrosa que reconhecendo o comando para abrir vindo de dentro, abre-se, deixando-o passar para a rua. Antes de se afastar Gusmão certifica-se de que a porta está bem fechada. E repassa mentalmente o que já sabe. A próxima parada deverá ser a guilda dos necromantes.

Não há espaço dentro da cidade de Bragança para uma guilda dos necromantes, pelo menos eles dizem que a atmosfera do lugar não é condutiva à magia que executam. Então, Gusmão precisa sair de Bragança. Descendo a rampa de cascalho ele se dirige à cidade aos pés da capital. Aqui em casas de pedra, longe dos corredores milagrosos sempre iluminados a população em expansão da cidade aguarda a sua vez de aproveitar as maravilhas ancestrais. As famílias rotacionam a sua permanência na joia do Norte, a cidade de Bragança, alternando a vida numa cidade miraculosa e uma vida numa cidade opulenta, mas mundana. Gusmão sabe os caminhos que precisa percorrer. As ruas essa manhã estão repletas de pessoas que acordaram para iniciar suas atividades do dia. Animais circulam puxando carroças. Mercadores montam apressados suas barracas para iniciar a venda de seus mais diversos artigos. Gusmão continua, afastando-se do burburinho comercial, indo em direção aos bairros de pior reputação, onde os elementos criminosos fazem suas atividades. Aqui, numa mansão antiga a guilda dos necromantes fez a sua sede. E é nesse local que Gusmão para observando as cercanias. As portas estão fechadas. Um esqueleto animado está na parte de dentro movendo a terra do jardim com uma enxada. Mais ao fundo Gusmão pode ver outros mortos vivos fazendo diversos trabalhos. Alguém se aproxima. Gusmão coloca a mão em prontidão para sacar da espada caso se faça necessário. O recém-chegado hesita ao ver Gusmão próximo ao portão. Mas avança confiante.

Necromante

Posso ajuda-lo senhor? O que deseja da guilda dos necromantes?

Gusmão

Gostaria de fazer uma pesquisa.

Necromante

Como?

Gusmão

Quero falar com um de seus chefes.

Necromante

E quem eu anuncio?

Gusmão

Sou Gaspar de Gusmão

Necromante

O Cascadura?

Gusmão

Ele mesmo.

Necromante

Certo… Vou ver o que posso fazer pelo senhor. Pode aguardar aqui?

Gusmão

Claro.

Narrador

Gusmão vê o acólito dos necromantes andando apressado pelo jardim, falando algo rapidamente ao esqueleto que trabalhava no jardim, que, após o sussurro para de trabalhar e volta as órbitas vazias e iluminadas por um tom azul da magia dos mortos para Gusmão que sabe reconhecer uma posição de prontidão de ataque quando a vê.

Em alguns minutos o acólito volta apressado e resfolegando fala:/

 

Necromante

Desculpe-me senhor Gusmão mas o mestre não pode receber visitas hoje. Temo que o senhor terá de voltar em um outro dia.

Gusmão

Estou em negócios oficiais e temo que terei de falar com o seu chefe.

Necromante

Isso não será possível. O nosso senhor Moktar está ocupado e não pode recebe-lo.

Gusmão

Creio que terei de insistir.

Necromante

Nós realmente não temos o que falar com o senhor, se o senhor tiver um documento oficial iremos cooperar com as autoridades, caso não tenha, vou ter de insistir para que se retire imediata… Lorde Melkith! Que surpresa o ver por aqui! Não fomos informados da sua chegada!

Narrador

Gusmão se vira e encara um homem que aparenta já ter meia idade. O olhar desse homem é um olhar louco, o rosto num ricto de algum prazer doentio. Ele olha para o necromante como quem olha para um inseto preste a ser esmagado. Relanceia o olhar para Gusmão e muda a expressão para uma de dúvida ou curiosidade. Subitamente a expressão passa a ser uma de reconhecimento.

Melkith

– Eu conheço você! Você me prestou um grande serviço!

Narrador

A fala do homem ativa a memória de Gusmão.

Gusmão

– Você era uma criança, estava subindo a ladeira com o koltrano na invasão dos insectóides.

Melkith

– Tem uma boa memória homem. Vamos, o que veio fazer aqui? Não creio que queira se tornar um necromante?! (risada maligna)

Gusmão

Não. Na verdade não. Vim fazer umas perguntas ao chefe da guilda dos necromantes. Mas não estão me deixando entrar.

Melkith

Bobagens! Venha! Vamos entrar comigo!

Narrador

Gusmão segue o recém chegado sob o olhar atônito do acólito que lhe barrava a passagem. Quando passam pelo portão. O esqueleto que portava a enxada, avança com a arma em punho, em direção a ambos. O tal de Melkith, que avança confiante, toma consciência do atacante, e, enquanto Gusmão se prepara para sacar a arma, ergue sua mão e num estalar de dedos uma coluna de pedras se ergue por sob o esqueleto que voa pelos céus a uma altura prodigiosa vindo a cair, quase em pedaços, aos pés de Melkith que esmaga o crânio ainda animado com a bota, enquanto comenta distraído:

Melkith

Sim, sim. É verdade. Foi realmente você. Eu me lembro. Um exército! Há! Você certamente é um herói! Faz muito tempo que não encontro um de vocês. Vive agora aqui nessa cidade louca?

Gusmão

Sim… (ressabiado) Moro em Bragança.

Melkith

E o que quer saber desse tolo do Moktar?

Gusmão

Estou em uma investigação sobre assassinatos.

Melkith

Assassinatos? De quem?

Gusmão

De várias pessoas, dentre elas o irmão de Thiago Navere.

Melkith

E quem é esse inútil?

Gusmão

Parece ser um influente comerciante local.

Melkith

Por que perde seu tempo com essas bobagens?! Você não e um herói? Não deveria estar caçando monstros?! (risada infernal)

Gusmão

Estou ficando velho, e não sou mais tão forte como era antes… (fala cabisbaixo)

Melkith

Eu sempre me esqueço disso. Vocês perdem a vitalidade muito rápido! O que acha da imortalidade?

Gusmão

Até onde sei é impossível…

Melkith

(Gargalhada infernal) Você não podia estar mais enganado herói! (gargalhada infernal) Veja só, chegamos!

Narrador

Melkith chuta as portas duplas de uma ampla sala. Atrás de uma mesa está um homem de aspecto doente com a pele meio cinzenta, os olhos estão ocultos por um capuz que cobre quase todo o rosto. Ele ergue o rosto e Gusmão julga ter visto um vislumbre de olhos estranhos que desaparece nas sombras do capuz.

Moktar

Maljevru! O que está fazendo aqui? Como veio para (som de engasgo)

Maljevru

Moktar, seu imbecil! Não use meu nome! Eu sou Melkith! E você herói… Não veja isso! Não se lembre disso!

Narrador

Gusmão após ver Melkith, ou Maljevru, se mover a uma velocidade impossível, sente uma terrível pressão mental que rompe com uma facilidade impossível todas as defesas mentais que ele estudara com o Bonifácio. Logo depois… Logo depois… Logo depois Gusmão está sentado numa cadeira, à sua frente está Moktar. O líder da guilda dos necromantes. Ao seu lado está um homem que ele não conhece, mas pensa conhecer.

Moktar

Muito bem senhor Gusmão, vou responder a todas as suas perguntas.

Gusmão

Como cheguei aqui?

Maljevru

Você desmaiou na porta quando lhe disseram que não poderia entrar. Acho que precisa ver isso homem. Na sua idade pode ser perigoso. Eu o trouxe para dentro e lhe demos uma poção de cura. Moktar ficou extremamente arrependido de seu erro e como penitência vai lhe informar verdadeiramente tudo o que lhe perguntar. Eu garantirei isso. (Gargalhada diabólica)

Narrador

Gusmão sente-se meio confuso como se algo lhe escapasse, mas decide aproveitar a ocasião para fazer as perguntas que precisa fazer sem rodeios.

Gusmão

O senhor sabe dos assassinatos que estão sendo cometidos.

Moktar

Sim

Gusmão

Tem algo à ver com eles?

Moktar

Sim e não.

Gusmão

Explique-se

Moktar

Eu forneci os meios, mas não sou responsável pelas mortes.
Gusmão

Não entendo.

Moktar

Thiago Navere queria acabar com seus competidores. Ele quer reestabelecer a família em Bragança sendo ele agora o patriarca. Por isso me procurou e comprou alguns esqueletos animados. Ele os recobriu com uma resina plástica para os fazer parecer pessoas normais. E os usou para se livrar de seus rivais.

Gusmão

E você sabia que isso aconteceria? Que eles seriam usados para assassinatos?

Moktar

Sim.

Maljevru

(Gargalhada). Parece que o herói pegou você Moktar!

Moktar

Não vejo por que. Se eu vender uma arma sei que ela será usada para matar. Mas não sou eu quem mata.

Gusmão

Isso é moralmente dúbio.

Moktar.

(rindo) Herói. Preste atenção onde está. Você acha que nós ligamos para moralidade? Não fiz nada ilegal. Apenas vendi uma arma. Não há nada que você possa fazer.

Gusmão

Veremos! (som de cadeira arrastando em isso de madeira)

Maljevru

Já vai sair?

Gusmão

Sim, a menos que pensem em tentar me impedir.
Narrador

Gusmão move a mão para a empunhadura de sua espada.

Maljevru

(gargalhando demoníaco) Eu estou tentado a deixar isso acontecer para ver o quanto o velho Moktar mantem de sua força… Mas NÃO. Não vou deixar isso acontecer. Moktar não vai fazer nada contra você enquanto eu estiver na cidade. Mas saiba herói que eu vou embora hoje à noite. Já vou ter até lá todos os ingredientes alquímicos para minhas experiências. Se eu fosse tão fraco como você eu fugiria. Você pode ver que esse rostinho lindo aqui quer comer o seu coração. (gargalhada demoníaca)

Narrador

Gusmão vê que o homem estranho aperta as bochechas do chefe da guilda dos necromantes como um pai aperta as bochechas do filho. E o ricto de ódio que isso gera em Moktar, que permanece quieto. Dominado. Gusmão sente uma aura de terror se apossar de seu corpo. Como que emanando do chefe da guilda dos necromantes. Enquanto ele lhe pergunta:

Moktar

Precisa saber de mais alguma coisa?

Maljevru

(Gargalhando) Isso mesmo Moktar, como o bom cachorrinho que você é.

Gusmão

Creio ser tudo. Mas saibam que vou ficar de olho em vocês. No senhor, senhor Moktar e no senhor também… Qual é mesmo o seu nome?

Maljevru

Melkith (Gargalhada) Se sabe o que é bom para você fuja herói! (Gargalhando) Eu só estarei aqui para o proteger até a noite! (gargalhando)

Narrador.

Gusmão sai, ouvindo Moktar chamar o acólito que o recebera ao portão quando chegara. Pode ver que o homem o olha com um olhar vazio. De um medo incalculável. Gusmão sai da guilda dos necromantes e dirige-se à residência de Tiago Navere.

Ele anda pelas ruas da cidade baixa. O Capitão Caio precisa ser informado disso. Mas Gusmão precisa tentar prender Navere.

Correndo agora ele sobe a rampa de acesso à cidade de Bragança. Segue pelo mercado. Indo em direção ao bairro nobre. Seus pés ligeiros voando, apesar da dor que isso gera em seus joelhos já meio cansados. Parando em um ponto público, Gusmão liga o intercomunicador daquele corredor. E pede para falar com o Capitão Caio.

(Som de intercom)

Gusmão

Foi Navere. Ele que comprou os esqueletos e os cobriu de resina.

Caio

Tem certeza?

Gusmão

Sim.

Caio.

Precisamos prendê-lo. Mas antes precisamos localizar todos os esqueletos. Gusmão. Ele irá ao Cabaré hoje. Vou, com meus homens à residência dele e destruiremos os esqueletos. Você deve ir ao cabaré e o prender. Mas aguarde a minha confirmação. Preciso de tempo para mobilizar meus homens e não deixar nenhum esqueleto escapar.

Narrador

Gusmão segue em direção ao Cabaré. Mas, no meio do caminho sua intuição o faz parar. Por que Thiago iria para o Cabaré pela manhã? Não haveria motivo. Parado enquanto pensa, Gusmão ouve um dos diversos chamados de áudio que, de tempos em tempos, passam pelo sistema de som da enorme cidade.

(Spot de áudio da Guilhermina)

Gusmão

Guilhermina!

Narrador

Correndo pelos corredores da gigantesca Bragança, a joia do Norte, Gusmão segue veloz, pedindo perdão aos transeuntes nos quais esbarra em sua correria. Como fora esquecer da dançarina? Sendo Navere um assassino, ela certamente estaria em perigo. Após tensos minutos correndo e subindo os andares Gusmão finalmente chega à residência de Guilhermina. Uma vez lá Gusmão se depara com estranhos personagens parados à porta. São dois indivíduos que vestem longos mantos e se encontram completamente parados à porta. Gusmão se aproxima. A mão a postos para sacar a espada.

Gusmão

Quem são vocês e o que fazem aqui?

Narrador

Nesse momento a porta de Guilhermina se abre. A dançarina está se preparando para sair. As figuras voltam os rostos impassíveis para a porta invencível que se abre e as mãos sacam de espadas quando avançam para a distraída dançarina que não sabe o perigo que corre.

Gusmão

Guilhermina! Cuidado

Narrador

O aviso fez com que a moça desviasse o rosto no momento em que a lâmina de uma espada empunhada pelo silencioso atacante passa a milímetros de seu rosto. Gusmão ataca. Sendo repelido pelo segundo. Assassino que apara a investida de sua espada. Guilhermina tropeça e cai par dentro de casa no momento em que um segundo golpe corta alguns fios de seu cabelo. Ela grita, enquanto engatinha para dentro. O atacante de Gusmão quase acerta o herói, que num rápido movimento desvia do golpe, acertando um murro no rosto do atacante que se deforma com o impacto, como se tivesse sido afundado. Um olho de vidro salta caindo no chão e revelando a luz azul da órbita vazia de uma criação necromântica.

Guilhermina chuta o pedestal de um vaso na entrada que cai, desequilibrando o atacante que precisa se apoiar no umbral para evitar cair. O que atrasa o seu próximo ataque e dá a Guilhermina preciosos segundos para se mover.

Gusmão consegue num movimento preciso acertar o atacante que apara com o braço nu o golpe, fazendo com que um de seus braços fique inutilizado, enquanto o braço da espada avança para o flanco desprotegido de Gusmão, que certamente teria perecido não fosse o manto do atacante enrolar a espada e desviar o golpe o suficiente para que a armadura de Gusmão absorvesse o impacto, causando uma dor de contusão, porém sem risco de vida.

Guilhermina já levantou e inicia uma corrida, a espada do atacante rompendo numa jogada de sorte inacreditável, apenas as alças do vestido que a mesma usava, que cai a chão num movimento quase que impossivelmente preciso, revelando o belíssimo corpo nu da dançarina, e colocando um novo obstáculo ao atacante cujos pés prendem-se às alças e panos fazendo com que ele perca o equilíbrio e caia.

Gusmão investe mais uma vez, porém, dessa vez numa finta que gera um movimento de defesa no atacante, defesa essa que coloca numa posição de desvantagem, fato esse que Gusmão aproveita para decepar a cabeça do atacante cujo corpo continua a avançar, umas vértebras ósseas aparecendo por sob a resina plástica que as cobriam. Gusmão então se lembra do encontro anterior quando o estranho homem pisou no crânio do esqueleto que o atacara. E, num golpe de precisão e habilidade levanta com a ponta da espada a cabeça decepada enquanto desvia o corpo de um novo golpe. Num movimento contínuo, pula para dentro da casa de Guilhermina, aperta o comando de fechar a porta, o que faz com que a cabeça colocada habilmente no caminho desta seja esmagada pela porta invencível. Gusmão ouve o som dos ossos sendo esmagados no interior da cobertura de resina, enquanto o corpo ao qual ela era ligada desaba atrás da porta num ruído seco e de dentro do crânio esmagado, um som, como o de um suspiro de alívio sai.

Guilhermina está encurralada. Próxima à bancada onde prepara suas refeições. Ela arremessa facas que, apesar da improvável pontaria, cravam na pele de resina do atacante que avança, agora desembaraçado de todos os obstáculos. Para o golpe fatal. Guilhermina grita, com a certeza da morte próxima, a espada se ergue num arco fatal que é interrompido por uma outra lâmina que corta o braço que atacava a aterrorizada dançarina. O atacante se vira sendo recebido por um soco fortíssimo de Gusmão que, mais uma vez afunda o rosto do atacante revelando as luzes das órbitas vazias animadas pela magia dos necromantes. O soco desequilibra o atacante, que cai. Gusmão aproveita o momento para, erguer sua prodigiosa espada acima de sua cabeça. O assassino infernal já está usando de seu braço ainda preso ao corpo para pegar a espada caída. Quando o assassino começa a erguer a espada recém recuperada a inexorabilidade do golpe de Gusmão cessa o domínio da magia que o mantinha animado quando desce certeiro fendendo o crânio oculto sob a resina em dois. Fazendo com que Gusmão e Guilhermina possam ver por um átimo o rosto de algum desconhecido aparecendo numa fraca visão com uma expressão de alívio, enquanto o corpo animado cai inerte, uma vez desprovido da força mágica que o animava.

Gusmão

Você está bem? Ele a feriu?

Guilhermina

Ele, ele, isso, isso, isso queria me matar!

Gusmão

Calma, você está à salvo. Vou resolver isso agora. Tiago Navere, vai pagar pelos seus crimes. Peço que não saia de casa. E não abra para ninguém mais que não eu mesmo.

Guilhermina

Si-sim…

Narrador

Gusmão se levanta e segue rapidamente, deixando a jovem nua segura em casa, para o cabaré. Esse estabelecimento nunca fecha, mas é mais frequentado à noite. No entanto seus instintos o fazem crer que é lá que encontrará Tiago Navere. O mandante de todos esses assassinatos. Chegando lá. Ele passa rapidamente pelos seguranças do local, mantendo a sua espada consigo. E encontra numa mesa ao canto Tiago Navere. Seus seguranças presos em algum tipo de transe enquanto o chefe da guilda dos necromantes, Moktar conversa com um Tiago Navere aterrorizado.

Moktar

Seu imbecil! Sua ambição e ganância me custaram muito. Agora meus pares sabem de tudo. Um herói se intrometeu e você. Você precisa sofrer!

Navere

Perdão senhor. Eu não queria lhe ser um empecilho. (Grito de dor)

Moktar

Você me custou muito e vai sofrer. Pena eu não ter mais tempo e precisar destruir as evidências.

Narrador

Gusmão pode ver que o necromante faz um gesto que é seguido de um novo grito de dor de Navere que parece estar em agonia. Sem poder se mexer em sua cadeira. Os frequentadores habituais do local já fugiram todos, e mesmo os seguranças não ousam se aproximar.

Gusmão

Pare seu vil! Eu estou aqui! Gaspar de Gusmão! O Cascadura de Bragança! E vou vencer sua iniquidade!

Moktar

Ora vejam. O herói!

Narrador

Gusmão sente seu corpo sendo paralisado por um comando mágico do necromante chefe. E sendo forçado por um movimento que não comanda a sentar-se ao lado de Navere.

Moktar

Então está aqui também herói. Que divertido! Vou poder me livrar de você juntamente com esse imbecil!

Gusmão

O que está fazendo comigo?

Moktar.

Nada que você possa entender. Apenas aceite que encontrou um! Aqui Maljevru não o pode proteger! E pensar que aquele maldito me humilhou! Eu vou me vingar dele sabe? E de você! É uma pena que eu não tenha mais tempo! Eu adoraria saber qual o gosto do sofrimento de um herói. Faz muito tempo que eu não provo um. Mas prioridades primeiro! Haha!

Narrador

Gusmão sente uma dor incapacitante atingir todos os pontos de seu corpo, como se ele estivesse sendo perfurado por milhares de facas, por dentro e por fora do corpo. Ele pode notar ainda o desapontamento do necromante, que fala.

Moktar

Parece que você é mais resistente do que imaginei. Queria ter mais tempo par o torturar herói. Ver o que é preciso para quebrar você. Mas tempo eu não tenho.

Narrador

Gusmão vê Moktar retirar de dentro da roupa um dispositivo.

Moktar

Sabe o que é isso?

Navere.

Não! Por favor! Eu não quero morrer!

Moktar

Silêncio! Eu me cansei de você.

Narrador

Gusmão vê o necromante tocar o corpo de Navere que grita enquanto a vida é sugada de seu corpo. Em poucos instantes deixando uma casca vazia onde estava Tiago Navere. O necromante lambe os dedos num gesto obsceno.

Moktar

Delicioso. Mas como eu dizia. Sabe o que é isso herói?

Gusmão

Uma bomba dos olhos de Plutônium!

Moktar

Sim. Ela vai destruir tudo aqui. É claro que essas suas malditas paredes, não permitirão que tudo desabe, mas vai eliminar todas as evidências. Hahaha! Agora eu vou ter de deixa-lo herói. Afinal, apesar de meu poder, eu não resistiria a uma explosão dessas!

Narrador

Gusmão vê Moktar levantar-se colocando a bomba na mesa onde estão Gusmão, o cadáver de Navere e seus guarda costas paralisados.

Ele avança calmamente, os números da bomba indicando poucos segundos para a detonação. Gusmão não sabe o que fazer. Tenta as disciplinas do Bonifácio, sem resultado, tenta mover os braços e pernas sem resultado. Pensa em Guilhermina, na sua vida de aventuras. E como deseja ainda fazer mais. Pensa nos deuses e ora.

Gusmão

Todos os deuses, estou numa situação sem saída. Preciso de ajuda!

Narrador.

Os segundos passam, e Gusmão quase perde as esperanças, mas, com o canto dos olhos pode ver uma mulher envolta num manto de escuridão. Ela se aproxima, por trás de Gusmão e lhe dá um beijo no rosto. Gusmão sente o corpo livre e pode agir. Olha em direção à mulher que não está mais lá. Sem tempo a perder, Gusmão pega a bomba que marca os últimos segundos fatais. Ergue-a no ar e num arremesso impossível grita para Moktar que está quase à porta:

Gusmão

Ei vilão! O bem sempre triunfa.

Narrador

Moktar se vira para zombar do herói mais uma vez recebendo a bomba no meio do peito. A expressão de deboche e o ar de vencedor desaparecem de seu rosto quando ele percebe Gusmão em pé. Rodeado aos seus olhos por treze figuras translúcidas. Os deuses dos humanos! Ele não tem tempo de fazer mais nada que não seja gritar quando o calor da explosão começa a devorar seu corpo imortal. A radiação e o calor começam a destroçar suas moléculas libertando o espírito maligno de seu interior. Esse espírito ainda pode sentir-se sendo envolvido por um campo de força das paredes invencíveis que contem sua forma, e os relâmpagos mortíferos que são a consequência da morte dos da sua espécie. Ele sente, por um átimo a impotência e o vazio do mal, antes de desaparecer da existência num momento de puro desespero e revolta.

Gusmão saiu, pensando na incrível proteção que tivera, no momento mais perigoso pelo qual passara até agora. Ele ainda tinha de encontra-se com Guilhermina, para ajudar a pobre menina a superar o trauma de quase ter sido assassinada e garantir-lhe que o futuro seria bom.

No, agora deserto cabaré, treze figuras etéreas conversam entre si.

Figura 1

Foi uma intervenção direta Nyt. Não acha temeroso?

Nyt

O momento de temer passou. Precisamos agir. Ou perderemos tudo.

Figura 2

Mas, se perdermos perdemos a humanidade e eu não estou certo em minhas probabilidades de que temos cem por cento de chance de vencer.

Nyt

Precisamos arriscar. Chegou o meu momento. E, daqui por diante, não teremos mais certeza de nada. Apenas de que temos de fazer tudo ao nosso alcance.

Figura 3

Sim. Eu voltarei. Creio que o garoto vai precisar de mim.

Figura 4

Será que estaremos prontos?

Plutônium

Vocês precisam estar. Nós estamos!

Nyt.

Sim. Nós estamos. E o destino do mundo se aproxima.

(Música de transição)

Narrador

Gusmão estava cansado. Nos últimos meses esteve empenhado em conseguir angariar fundos para a igreja de Helion. Mas mesmo essa atividade já estava começando a cansar. “Preciso me empenhar em algo mais simples. ” Pensou ele, enquanto caminhava pelas ruas cobertas de Bragança.

(Iniciando o fadeout) Bragança era uma das cidades capitais e, depois de Império, a cidade mais bem cuidada. Suas ruas eram limpas constantemente e as paredes ainda apresentavam as luzes dos milagres, bem diferente de Upanishads, com suas ruas estreitas em plano inclinado e iluminação por tochas. O vai e vem de pessoas era constante, com muitos vendendo suas mercadorias nos amplos corredores da cidade. O principal problema de Bragança era que não havia espaço para todos nas residências. Quando a cidade fora habitada inicialmente no tempo dos milagres, havia espaço de sobra para todos, com bastante possibilidade de ampliação para áreas desocupadas. O principal problema era que, com o tempo, foi-se perdendo a habilidade de cortar e remodelar as paredes invencíveis e a área interna acabara se estabilizando e não podia mais mudar. (Fim do fadeout)

 

As aventuras de Gaspar de Gusmão, o Cascadura de Bragança, continuam no livro Damocles: O início. Esse podcast marca o encerramento dessa fase. Nas próximas fases apresentaremos outros heróis desse mundo. Há uma história completa no livro. E mais histórias estão por vir. Agradeço aqui a todos os que participaram para a gravação e edição desses podcasts, mas em especial, ao Allan Polar, que foi fundamental na edição dessas gravações. Ao Rafael 47 que foi o idealizador do RPG Next e que tem trabalhado arduamente para nos trazer a todos vários podcasts de qualidade além de batalhar dia a dia para a manutenção do projeto, numa tarefa de dedicação e garra, com uma disposição incansável. Gostaria de agradecer aos meus amigos que vêm jogando RPG comigo já há tantos anos, em especial ao amigo Nilson Doria, o criador do personagem de RPG Gusmão na aventura que mestrei e que depois foi portado por mim para os livros e o podcast. Ao Thiago Santos, que, ao se interessar em me ajudar a gravar me gerou a ideia do motivo da aventura de mistério do episódio que acabaram de ouvir. E, gostaria de fazer um agradecimento especial a uma pessoa que não está mais entre nós.

Vocês talvez tenham reparado em um momento em que ouviram uma história meio estranha, com uma gravação de qualidade diferente. Vou lhes explicar a história por trás do soldado 496.

Quando eu era criança, junto com meu irmão, passávamos os dias de escola na casa de meus avós maternos. Meu avô era uma pessoa fantástica. Ele era extremamente engraçado e contava diversas histórias. Eu lembro que, quando pequenos, pedíamos para ele contar as suas aventuras do quartel, quando ele, o 496, fazia e acontecia, gerando altas confusões e sempre se saindo bem. Por conta de tanto ouvir histórias, eu imagino que tenha sempre sentido o gosto por criar histórias. O que acabou, em última análise por me colocar aqui nessa conversa com vocês. Então aproveitei várias sequências de conversas gravadas do meu avô com a minha mãe, quando ele já estava doente, e em edição consegui montar uma sequência que fizesse sentido na história do Gusmão. Eu, infelizmente não pude contar com o meu avô para gravar ele mesmo junto comigo esse podcast, mas, através da magia da edição e com um certo trabalho para tentar colocar as palavras certas na ordem certa de maneira a ficarem coerentes, consegui um pequeno diálogo com ele. Sinto muitas saudades dele, mas sei que onde estiver, está feliz e aproveitando essa nova fase de aventuras num level up! Vô Heitor! O 496! Também conhecido como o melhor do mundo! Obrigado! Dedico essas gravações a você.

Com a participação de:

 

  • Vinicius Watzl, autor e vozes;
  • Tiago Santos, voz;
  • Vanessa Müller, voz;
  • Rose Mello, voz;
  • Rosângela Lima, voz;
  • Heitor dos Santos, voz;
  • Allan Dias, edição.

 

Uma produção RPG Next.

 

SUGESTÕES

 

Imagem do livro Damocles O início no site da Amazon.com.br
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Imagem do livro Damocles O início no site do Wattpad
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