Contos NarradosEm busca de ser um HeróiPodcast

CNa#002: BSH-E02 – O caminho da paz | Fernando Moura

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RPG Next apresenta… Contos Narrados, um podcast de áudio drama escrito por Fernando Moura.

Bem-vindo aos Contos Narrados, um novo espaço do RPG Next para se ouvir áudio dramas, aventuras e se perder em histórias. Em busca de ser um Herói é uma série de contos independentes que trarão as aventuras, decisões e dramas daqueles que fizeram a escolha certa. Aproveite! Relaxe nesse minutos que estão por vir e divirta-se.

 

Com a participação de:

 

  • Fernando Moura;
  • Tiago Santos;
  • Talita David.

 

Uma produção RPG Next.

 

O caminho da paz

Por Fernando Scaff Moura

 

A cidade estava agitada por conta das feiras e torneios. O Cavaleiro Verde, herói do vilarejo, havia vencido as últimas justas e tudo veio a baixo. A comemoração já durava tempos após o sol se por. Inchadas e bois de tração foram abandonados nos campos, forjas com fogo alto derretiam metais esquecidos na brasa. Nem mesmo o corpo do Cavaleiro Azul havia sido retirado da areia. A lança preta com listras amarelas permanecia cravada na armadura azul marinho.

Tlyta estava sentada na escuridão das arquibancadas, sentindo o vento e o sereno sobre a pele. Havia chegado após a luta acabar, vindo da vigília na floresta. Foi trazida para a área de torneio pelo silencio que sentia vir desse lugar, afinal, as algazarras da praça principal a assustaram, as pessoas pulavam e cantavam hinos de gloria. Além de beberem e beberem mais e mais, um churrasco de javalis acontecia na praça. Porcos, caça e outras carnes, todas espetados em fogueiras ao redor da estátua da Deusa que, iluminada pela fogueira circular ao redor dela, parecia ser ela a pagar um suplício pelo fogo. A fuligem e gordura subiam pelas pernas, bustos e braços estendidos. A luz da fogueira parecia criar expressões de agonia na estátua gigantesca.

– Bárbaros! – Murmurou a elfa, que se afastou da multidão em direção de um lugar silencioso.

Agora estava ali, sentada em uma arquibancada de madeira observando um cavaleiro empalado e abandonado no chão. “Bárbaros”, pensou.

Tlyta havia passado a última lua cheia se harmonizando com a natureza, achando animais perdidos, curando plantas feridas e abrindo trilhas. Foram dias de paz e auto compreensão. Como sempre voltava com uma única certeza: A paz é o único caminho.

Sobre o céu noturno, a elfa reparou uma ilusão começar a se formar, um homem verde sobre um cavalo verde rodopiava pelo ar com uma lança amarela e preta. O mago que deveria estar por trás do feito não era um grande artista ou a ilusão gigantesca deveria estar forçando suas capacidades, pois os a ilusão era bem malfeita, porem isso não impedia os gritos enaltados rugirem pelas ruas da cidade até o campo de torneio. O cavaleiro verde cavalgava com a lança em riste até um outro, azul, aparecer diante de ele. As ilusões flutuantes pararam no ar, ofensas soaram em coro, outros urras pelo cavaleiro verde que disparou em direção do cavaleiro azul. A lança penetrou o outro cavaleiro como se ele fosse papel, e todas as ilusões brilharam como a luz do dia e o céu começou a pipocar com estrelas vermelhas frenéticas. Gritos, urros, e canções pareciam fazer o chão tremer.

Foi somente quando a fome despertou que Tlyta decidiu deixar suas reflexões sobre as barbaridades do mundo e a necessidade humana por violência para outra hora. Tentou não pensar nos javalis mortos, isso sempre tirava o apetite da elfa, estava decidida a comer o ensopado de raízes na boa Taverna Prateada, do seu amigo Sylverin. Em seu trajeto evitou ao máximo a turba de festeiros, contornando a praça principal e as ruas das tavernas e dos bordéis, mas não conseguia deixar de se impressionar com o calor e os cheiros que sentia vindo da multidão.

Foi necessário um esforço para se chegar ao balcão da taverna e encontrar Sylverin como um autômato enchendo canecas de cerveja e passando para sua assistente que, por sua vez, entrega para os clientes. Quando a última caneca é enchida, a maioria dos clientes se afastam do balcão para as janelas e portas da estalagem em seguindo a cantoria das ruas dando espaço para todos respirarem.

 

– Nada como um festival desses para fazer o taverneiro rico. – Comenta Tlyta.

– Rico não sei, mas esfolado sem dúvida. – Sylverin responde se jogando sentado em uma banqueta do outro lado do balcão. – Mas sem dúvida está sendo um ótimo dia. Mas uma rodada dessas e terei que abrir um barril novo!

– Pelo menos alguém tem um bom motivo para estar feliz, mesmo que não muito nobre. – Tlyta fala baixo.

– Do que está falando? – Sylverin fecha o cenho e se levanta da cadeira. – Está insinuando que estou sendo desonesto?

– Um cavaleiro teve que morrer hoje para tudo isso acontecer, Sylverin – não se faça de inocente.

– Ha! É disso que está falando. – Sylverin volta a se sentar. – Não fui eu quem o empurrou para aquela peleja, nem fui eu quem o matei. Além disso. – Sylverin pega uma tigela de baixo do balcão e começa a encher de cerveja. – Era um torneio, todos sabem o que pode acontecer quando você se mete em um torneio.

– Tratar a vida humana não deveria ser colocada a prova assim. É um desperdício.

– Vivemos em um mundo perigoso, Tlyta. – Sylverin começa a beber a cerveja na tigela deixando escorrer um pouco de cerveja pelo sou rosto branco. – Pessoas morrem.

– Morrer em uma emboscada de orcs, entendo perfeitamente. Mas um homem bom morrer nas mãos de outro homem bom, e essa morte ser comemorada dessa forma? Estão contando. Sylverin, cantando! Matando outros animais e fazendo uma fogueira em volta da deusa! Qual o sentido disso?

– Estão felizes, Tlyta. – Sylverin devolve a a tigela para o lugar de onde tirou, e limpa a boca com a manga da camisa. – É contagiante, é intenso, dá sentido em estar vivo.

– E essa festa toda a que preço?

– Qual é o preço da felicidade?

 

Os dois elfos ficam em silencio. A música dos tambores junto do ressoar de mil vozes embala o ar da noite.

 

– Veio atrás do cozido? – Pergunta Sylverin.

– Do ensopado na verdade. – Responde Tlyta.

 

O elfo entra na cozinha por uma porta aos fundos e retorna com uma tigela fumegante, retira uma colher de pau de baixo do balcão e coloca em frente a elfa.

 

– Essas coisas estão limpas, Sylverin?

– Claro que estão! – Sylverin faz um rosto indignado. – Que tipo de taverneiro pensa que sou?

– Hum… – Tlyta olha para o ensopado grosso, com inhame e batatas incrustados e o cheiro lhe faz reviver a fome.  – Posso comer lá em cima?

– Claro! – Sylverin começa passar um pano sobre o balcão. – Você sabe o caminho.

 

Tlyta segue pela lateral do balcão por uma escada estreita até o segundo andar, onde encontra um corredor com três portas de cada lado e uma janela ao fundo. Ela seguiu até a janela, e usando sua agilidade e corpo egio, usando as madeiras e vão das paredes, se içar até o teto com a tigela quente nas mãos.

Ali era possível ver a cidade, a multidão, a estátua da deusa iluminada. A cena era bonita, havia dança nas ruas, diversos lugares com suas músicas e, de tempos em tempos, alguém em alguma das ruas um hino que começava baixo e a canção seguia pela cidade fluindo como um rio. Era uma sensação revigorante, intensa. Deixando a tigela vazia de lado, Tlyta se perdeu acompanhando indivíduos e suas histórias. Uma mulher que dançava de um lado da rua com seu vestido rendado fazendo círculos no ar e chamando outros para dançar com ela, e seguir uma dança de roda que ocupava a quadra inteira. Outro homem gritava algo para a multidão que respondia com alguma ofensa e todos caem na gargalhada. Um porco corria pelas ruas deixando homens e mulheres que tentavam capturá-lo caídos pelo caminho. “Peguem o porco” diziam, e o porco seguia impassível. Era possível ver a trilha de pessoas se levantando após falharem na caça ao porco.

Tlyta se pegou rindo sozinha, percebendo que fora contagiada com a felicidade. Passara as semanas em isolamento que nem lembrava mais o convívio humano. Na verdade, nem sabia que sentia falta disso. O porco corrida, a dançarina rodava, os urros seguiam e, de repente, outra canção soava por toda cidade. Até as chamas no rosto da deusa pareciam agora ser seus lábios se movendo baixinho, cantarolando junto a música dos mortais.

Foi então que Tlyta percebeu o horizonte, a noite sem lua, a escuridão que cercava o vilarejo por todos os lados, nem as pequenas casas e suas lamparinas agora mostravam o caminho da estrada. Parecia que a vila era a única vila no mundo, ilhada pela noite

A elfa ficou em pé sentindo o vento quente no rosto e percebendo como tudo parecia frágil, que lá fora qualquer coisa poderia vir e destruir a música, a festa e todo o resto. Na floresta ela sabia que não existia o bem e o mal, somente o equilíbrio. Um urso e um lobo poderiam se duelar pela morte, mas não havia maldade, somente medo e valentia. O coelho podia ser caçado e nisso também não havia maldade. Mas no mundo dos homens e da magia as regras eram diferentes, o mal habita as sombras, e as criaturas malignas não são dadas a festas e diversões. Vivem por seus propósitos, pela cobiça e inveja, pelo desejo de poder, ou viviam pelo poder sem se importar com mais ninguém. Fazendo da própria ignorância os caminhos do mal.

O sentimento de urgência de proteger esse momento começou a ser o pulsar de seu coração, a vontade de permitir que as pessoas fossem elas, sem restrições, sem limites, sem os dedos sombrios e frios do mal em volta de seus pescoços. Alguém deveria enfrentar a noite, alguém deveria impedir que esse medo existisse, alguém deveria impedir que as canções se calassem, pois, a noite chegou.

“Qual o preço da felicidade? ”, lembrou-se de Sylverin na taverna.

Tlyta sorriu, se deixou escorregar pelo telhado e pousou no chão suavemente, seguiu pelo meio da multidão sentindo o calor do rosto da festa em cada poro de sua pele e sentiu esse calor enquanto a noite se tornava sua única companheira.

 

-Enquanto eu puder fazer algo… eu farei. – Disse Tlyta para a escuridão, tendo a lua como sua única testemunha.

 

 

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